Entre as vítimas, incluem-se uma rapariga de 17 anos, Masuma, apanhada em fogo cruzado quando a fação talibã disparou sobre uma multidão de pessoas, outro civil e ainda 11 antigos membros das Forças de Segurança da Defesa Nacional Afegã -- as forças armadas do país da Ásia Central -- na vigência do Governo que caiu em agosto.
A partir de testemunhas no local, de fotografias e de registos vídeo no rescaldo das execuções, a AI concluiu que os assassinatos se deram na povoação de Kahor e vitimaram pessoas que já se tinham rendido às forças talibãs, pelo que aparentam ser crimes de guerra, reitera o comunicado da organização não-governamental para os direitos humanos.
A secretária-geral da AI, Agnés Callamard, sublinha que as "execuções a sangue-frio são mais uma prova de que os talibãs estão a cometer os mesmos terríveis abusos por que já se tinham notabilizado na primeira vez que governaram o Afeganistão [1996 a 2001]".
"Eles violam repetidamente os direitos daqueles que consideram seus adversários, até matando aqueles que já se renderam. Os talibãs afirmam não ter como alvo ex-funcionários do Governo anterior, mas estes assassinatos contradizem essas afirmações", reitera, citada pelo comunicado.
A líder da organização exige que os talibãs cessem "imediatamente" quaisquer "atos cruéis de vingança", assegurando que os funcionários do anterior Governo e as suas famílias "possam viver em segurança no Afeganistão".
"O novo Governo deve deixar claro que tais violações não serão toleradas e que os responsáveis por elas vão ser processados", vinca.
Os talibãs assumiram o controlo da província de Daykundi em 14 de agosto, um dia antes de terem tomado a capital, Cabul, e a AI apurou que 34 ex-membros das forças armadas afegãs se refugiaram naquela província com equipamento militar, antes de aceitarem a rendição incondicional e de desativarem o armamento em 29 de agosto.
No dia seguinte, adianta a AI, os antigos elementos das forças armadas tentaram abandonar a vila de Dahani Qul perante a chegada de 300 combatentes talibã, mas um dos veículos ficou preso em Kahor.
Quando alcançaram a comunidade Hazara em fuga, os talibãs abriram fogo, matando Masuma, de 17 anos, e ainda dois ex-militares, perante a retaliação de um dos antigos membros das forças armadas.
Depois de os restantes nove ex-militares se terem rendido, os talibãs levaram-nos para a área ribeirinha mais próxima e executaram-nos.
Em 31 de agosto, os corpos foram levados para Dahani Qul e sepultados em terrenos das respetivas famílias, com a AI a estimar os nomes das vítimas militares: Musa Amiri (46 anos), Khudad Jawahiri (33), Esmatullah Zarigh (34), Noor Ali Ibrahimi (34), Habibullah (33), Amanullah (32), Reza Karimi (31), Dawran (26), Dur Mohammad (41), Abdul Hamid Fahimi (28) e Reza Joia (33).
No dia 01 de setembro, o chefe da polícia nomeado pelo Governo talibã para Daykundi, Sadiqullah Abed, negou qualquer homicídio, tendo apenas confirmado que um combatente talibã ficara ferido num ataque na província.
Depois de consumado o regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão, em agosto, a Amnistia Internacional pediu a proteção de milhares de afegãos em sério risco de represálias do novo Governo, desde académicos e jornalistas a ativistas da sociedade civil e mulheres defensoras dos direitos humanos, lê-se ainda no comunicado.
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