Afeganistão: Talibãs assassinaram 13 pessoas da etnia Hazara
Combatentes talibãs assassinaram 13 pessoas da etnia Hazara na província de Daykundi, no centro do Afeganistão, já depois de se terem rendido, em 30 de agosto, denunciou hoje a Amnistia Internacional (AI), na sequência de uma investigação.
© WAKIL KOHSAR/AFP via Getty Images
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Entre as vítimas, incluem-se uma rapariga de 17 anos, Masuma, apanhada em fogo cruzado quando a fação talibã disparou sobre uma multidão de pessoas, outro civil e ainda 11 antigos membros das Forças de Segurança da Defesa Nacional Afegã -- as forças armadas do país da Ásia Central -- na vigência do Governo que caiu em agosto.
A partir de testemunhas no local, de fotografias e de registos vídeo no rescaldo das execuções, a AI concluiu que os assassinatos se deram na povoação de Kahor e vitimaram pessoas que já se tinham rendido às forças talibãs, pelo que aparentam ser crimes de guerra, reitera o comunicado da organização não-governamental para os direitos humanos.
A secretária-geral da AI, Agnés Callamard, sublinha que as "execuções a sangue-frio são mais uma prova de que os talibãs estão a cometer os mesmos terríveis abusos por que já se tinham notabilizado na primeira vez que governaram o Afeganistão [1996 a 2001]".
"Eles violam repetidamente os direitos daqueles que consideram seus adversários, até matando aqueles que já se renderam. Os talibãs afirmam não ter como alvo ex-funcionários do Governo anterior, mas estes assassinatos contradizem essas afirmações", reitera, citada pelo comunicado.
A líder da organização exige que os talibãs cessem "imediatamente" quaisquer "atos cruéis de vingança", assegurando que os funcionários do anterior Governo e as suas famílias "possam viver em segurança no Afeganistão".
"O novo Governo deve deixar claro que tais violações não serão toleradas e que os responsáveis por elas vão ser processados", vinca.
Os talibãs assumiram o controlo da província de Daykundi em 14 de agosto, um dia antes de terem tomado a capital, Cabul, e a AI apurou que 34 ex-membros das forças armadas afegãs se refugiaram naquela província com equipamento militar, antes de aceitarem a rendição incondicional e de desativarem o armamento em 29 de agosto.
No dia seguinte, adianta a AI, os antigos elementos das forças armadas tentaram abandonar a vila de Dahani Qul perante a chegada de 300 combatentes talibã, mas um dos veículos ficou preso em Kahor.
Quando alcançaram a comunidade Hazara em fuga, os talibãs abriram fogo, matando Masuma, de 17 anos, e ainda dois ex-militares, perante a retaliação de um dos antigos membros das forças armadas.
Depois de os restantes nove ex-militares se terem rendido, os talibãs levaram-nos para a área ribeirinha mais próxima e executaram-nos.
Em 31 de agosto, os corpos foram levados para Dahani Qul e sepultados em terrenos das respetivas famílias, com a AI a estimar os nomes das vítimas militares: Musa Amiri (46 anos), Khudad Jawahiri (33), Esmatullah Zarigh (34), Noor Ali Ibrahimi (34), Habibullah (33), Amanullah (32), Reza Karimi (31), Dawran (26), Dur Mohammad (41), Abdul Hamid Fahimi (28) e Reza Joia (33).
No dia 01 de setembro, o chefe da polícia nomeado pelo Governo talibã para Daykundi, Sadiqullah Abed, negou qualquer homicídio, tendo apenas confirmado que um combatente talibã ficara ferido num ataque na província.
Depois de consumado o regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão, em agosto, a Amnistia Internacional pediu a proteção de milhares de afegãos em sério risco de represálias do novo Governo, desde académicos e jornalistas a ativistas da sociedade civil e mulheres defensoras dos direitos humanos, lê-se ainda no comunicado.
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