Cortes na África Ocidental podem gerar pior crise de desigualdade
Os cortes orçamentais previstos na maioria dos países da África Ocidental para compensar as perdas económicas provocadas pela covid-19 podem desencadear a pior crise de desigualdade das últimas décadas na região, alertou hoje a ONG internacional Oxfam.
© Reuters
Mundo Oxfam
"Catorze dos dezasseis países da África Ocidental planeiam cortes nos orçamentos nacionais, num total de 26,8 mil milhões de dólares [cerca de 23,1 mil milhões de euros], nos próximos cinco anos, a fim de compensar parcialmente os 48,7 mil milhões de dólares [41,99 mil milhões] perdidos em 2020, devido à pandemia na região", disse a Oxfam numa declaração.
"As organizações apelam a uma mudança urgente de rumo, à medida que os governos da África Ocidental preparam os seus orçamentos anuais e participam nas Reuniões Anuais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI)", acrescentou a ONG humanitária, apontando críticas a esta última instituição, que considera responsável por encorajar a austeridade ao conceder os seus empréstimos para os Estados enfrentarem a pandemia.
Segundo a Oxfam, que publicou hoje um relatório conjunto com a Development Finance International (DFI), intitulado "The West Africa Inequality Crisis: Tackling Austerity and the Pandemic", a austeridade, os níveis de endividamento elevados e o acesso desigual às vacinas podem exacerbar a crise de desigualdade "para níveis sem precedentes", empurrando mais de mil milhões de pessoas para a pobreza e fome.
"Estamos no meio de uma pandemia que empurrou milhões para a pobreza extrema e que ameaça inverter os progressos feitos nas últimas duas décadas", disse Assalama Dawalak Sidi, diretor regional da Oxfam para a África Ocidental, numa conferência de imprensa virtual.
"Esta falta de empenho em reduzir a desigualdade no meio da pior pandemia do século pode levar à pior crise de desigualdade em décadas", acrescentou Sidi, avisando que a desigualdade está a alimentar "perigosamente" o conflito na região do Sahel.
A organização também advertiu que os reembolsos da dívida em 2020-2021 absorverão cerca de 61,7% das receitas públicas da África Ocidental.
Sidi considerou que agora não é o momento para cortes orçamentais devido ao contexto da região, onde se perderam sete milhões de empregos.
Além disso, a África Ocidental enfrenta um número crescente de novos casos de covid-19 e falta de vacinas (menos de 4% dos africanos ocidentais estão totalmente vacinados), enquanto o Sahel está a passar por uma das piores crises de fome.
Matthew Martin, diretor da Development Finance International, recomendou um aumento dos orçamentos para a proteção social, saúde pública e educação, às quais se aplicam taxas proporcionais de acordo com o rendimento; e apoio a um salário mínimo e aos direitos das mulheres no local de trabalho.
Segundo o relatório da Oxfam e do DFI, os governos da África Ocidental são os menos empenhados na redução das desigualdades no continente, sendo o Togo, Cabo Verde e Gana os mais envolvidos, e a Nigéria, Libéria e Guiné-Bissau os menos envolvidos.
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