No texto da condecoração a atribuir à associação, constituída na ilha do Fogo após o salvamento da tartaruga "Vitó", Jorge Carlos Fonseca, recorda que Cabo Verde tem "uma área marítima que perfaz milhares de quilómetros quadrados" e "não pode ficar à margem das preocupações mundiais no que respeita ao ambiente e ao desenvolvimento sustentado".
"Também somos chamados a sintonizar as nossas atenções e prioridades para estas questões transversais e que têm implicações no nosso futuro. Um pouco por todo o país, têm surgido organizações que no seu trabalho diário procuram encontrar e zelar pelas melhores formas desse equilíbrio, quer na proteção da fauna, quer no trabalho de sensibilização das populações e das próprias autoridades, para a questão ambiental", enaltece o Presidente da República.
Jorge Carlos Fonseca inicia hoje uma visita de dois dias às ilhas do Fogo e da Brava, a última como chefe de Estado, estando a condecoração agendada para esta manhã, em São Filipe (Fogo).
A associação "Projeto Vitó" é uma organização da sociedade civil cabo-verdiana que teve origem na ilha do Fogo, em 2009, em resultado de uma iniciativa de um grupo de voluntários, após o salvamento de uma tartaruga marinha -- Vitoria ou simplesmente "Vitó" - encontrada por um pescador local.
A iniciativa acabou por mobilizar vários ativistas ambientas, que iniciaram um projeto de conservação de tartarugas no concelho de São Filipe, ilha do Fogo Cabo Verde. A associação foi legalizada em 2010 e começou a implementar, em conjunto com várias outras entidades nacionais, o Plano nacional de Conservação de Tartarugas Marinhas.
"O trabalho desenvolvido no presente terá os seus frutos no futuro e nas vidas das gerações vindouras. Existe a consciência de que é uma tarefa de todos zelar para que a riqueza natural das ilhas não sofra com a nossa pegada ambiental. Que possamos atingir esse equilíbrio numa convivência harmónica com a nossa fauna e flora", enaltece ainda o Presidente da República, no texto da condecoração.
Jorge Carlos Fonseca reconhece que "em vários pontos do país, algumas organizações trabalham no terreno, como uma espécie de guarda avançada", desenvolvendo "projetos que visam a proteção de espécies marinhas e terrestres, sensibilizando as populações para comportamentos mais adequados a esse equilíbrio ambiental".
"A elas devemos essa consciência ambiental, que é cada vez maior", reconhece o Presidente da República, justificando a atribuição à associação "Projeto Vitó" da medalha de mérito, primeira classe, com "o importante contributo e a dedicação em prol das questões ambientais e sociais, no trabalho desenvolvido no terreno, promoção de uma educação para o ambiente, com vista a um desenvolvimento sustentado e harmonioso".
Atualmente, a associação tem ações de colaboração em trabalhos de conservação em cinco das dez ilhas de Cabo Verde e em oito áreas protegidas cabo-verdianas.
Cabo Verde tornou-se em 2020 no segundo mais importante ponto de desova de tartarugas marinhas, com o número de ninhos num recorde de quase 200.000, segundo números divulgados em março passado pelo ministro do Ambiente, Gilberto Silva.
De acordo com o responsável, Cabo Verde viu o total de 10.725 ninhos de tartarugas detetados no arquipélago em 2015 aumentar para 198.787 ninhos em 2020, "quase 19 vezes mais".
"Cabo Verde passou a ser o segundo ponto mais importante da desova de tartarugas marinhas no mundo", afirmou o governante.
"Com a educação ambiental, vigia de mais de 180 quilómetros de praias e aplicação da nova legislação que criminaliza a caça e o consumo das tartarugas, a taxa de captura diminuiu significativamente, de 8,25% em 2015 para 1,54% em 2020", acrescentou.
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