O Conselho de Segurança das Nações Unidas deverá discutir hoje a situação no país, numa reunião à porta fechada.
A tomada do poder ocorreu após semanas de tensões crescentes entre líderes militares e civis sobre o percurso e a que ritmo que deveria prosseguir o processo de transição no país, iniciado com o derrube do ditador Omar al-Bashir em abril de 2019.
Vários governos ocidentais e as Nações Unidas condenaram o golpe e apelaram à libertação do primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, e de outros ministros e altos funcionários, detidos na segunda-feira e que se encontram em paradeiro desconhecido.
Os Estados Unidos anunciaram a suspensão de 700 milhões de dólares em ajuda de emergência ao Sudão.
Mariam al-Mahdi, ministra dos Negócios Estrangeiros do governo que os militares dissolveram, desafiou hoje o poder concentrado nas mãos do tenente-general Abdel-Fattah al-Burhan, declarando que ela e outros membros da administração Hamdok continuam a ser a autoridade legítima no Sudão.
"Ainda estamos nas nossas posições. Rejeitamos o golpe e as medidas inconstitucionais", afirmou à agência Associated Press por telefone a partir da sua casa em Cartum. "Vamos continuar a desobediência pacífica e a resistência", reforçou.
Horas depois da detenção de Hamdok, da sua mulher e de vários responsáveis políticos e altos responsáveis da administração pública, a população inundou as ruas da capital, Cartum, e de outras cidades em protesto.
Pelo menos quatro pessoas foram mortas e mais de 80 feridas em resultado de as forças de segurança terem aberto fogo sobre os manifestantes, segundo o Comité dos Médicos Sudaneses, citado pela AP.
Esta manhã, os manifestantes permaneciam nas ruas de Cartum e da cidade gémea de Omdurman, a norte da capital sudanesa, onde muitas estradas foram bloqueadas.
As temidas Forças de Reação Rápida patrulharam os bairros de Cartum, em perseguição dos manifestantes, segundo a agência de notícias. A organização não-governamental Human Rights Watch citou hoje relatos de manifestantes que dizem terem sido recebidos com munições reais quando protestavam junto ao quartel-general do exército em Cartum na segunda-feira.
O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, apelou ao fim imediato da violência contra os manifestantes e à restauração dos serviços de internet.
Blinken anunciou ainda que os Estados Unidos se estão a coordenar com parceiros para "estabelecer uma abordagem diplomática comum" e "evitar mais instabilidade no Sudão e na região".
Esta segunda-feira, o general Abdel-Fattah al-Burhan, que agora controla o poder no Sudão, dissolveu o governo de Hamdok, assim como o Conselho Soberano, um organismo conjunto militar e civil, criado para conduzir o país a eleições gerais e restabelecer o poder civil.
Aç-Burhan dirige agora um conselho militar que, segundo afirmou esta segunda-feira num discurso na televisão pública sudanesa, governará o país até à realização de eleições em julho de 2023, como previsto.
O general justificou a tomada de poder com disputas e divisões no seio do Conselho Soberano, mas o golpe acontece a menos de um mês do general dever entregar a liderança do organismo de governação a um civil, passo que mitigaria o domínio dos militares sobre o poder no país.
Nas últimas semanas, Abdel-Fattah al-Burhan indicou por diversas vezes que poderia não avançar com a transição do poder e esta segunda-feira confirmou-o.
A Associação dos Profissionais Sudaneses, um grupo de sindicatos que esteve por detrás da revolta contra Al-Bashir, exortou a população e entrar em greve à desobediência civil.
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