"Pandemias representam uma das maiores ameaças à segurança global"

A Covid-19 demonstrou que as pandemias são uma nova ameaça à segurança global, defende o presidente da Aliança Global das Vacinas, Durão Barroso, que exortou os governos a adotarem respostas conjuntas, começando pela vacinação.

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Lusa
29/10/2021 20:05 ‧ 29/10/2021 por Lusa

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Covid-19

O alerta foi deixado num artigo publicado hoje no 'site' "Project Syndicate" pelo ex-presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro português, que lidera agora a Aliança Global das Vacinas (GAVI).

"Para evitar que a história se repita, a nossa preparação deve refletir a verdadeira extensão do problema. Temos de reconhecer que as pandemias representam agora uma das maiores -- e mais prováveis -- ameaças à segurança global", escreve Durão Barroso.

No artigo intitulado "O teste de preparação para a pandemia", o responsável compara a atual crise pandémica à proliferação nuclear, ao terrorismo e às alterações climáticas no seu impacto à estabilidade social e ao bem-estar económico.

Referindo que anteriormente as doenças infecciosas não constavam sequer da agenda da segurança global, Durão Barroso defende que a covid-19 não só mudou isso, como demonstrou também a urgência de medidas globais para a prevenir futuras pandemias, ao mesmo nível de outras ameaças à segurança, mas com alguma especificidade.

Como exemplo, referiu a crise financeira de 2008 e a crise climática: "O denominador comum em cada caso é que a crise exige soluções que nenhum governo individual consegue dar sozinho".

"Uma doença infecciosa não pode ser combatida com contramedidas de segurança habituais, como sanções económicas, o recurso à diplomacia bilateral ou uma postura militar. Exige a colaboração científica, sistemas de saúde resilientes e investimentos de longo prazo nas redes de saúde globais", defendeu, acrescentando a necessidade de colaboração global, multilateralismo estratégico e compaixão transnacional.

Estas recomendações, porém, não são apenas para o futuro, uma vez que a pandemia de Covid-19 ainda não foi ultrapassada. E Durão Barroso responsabiliza, sobretudo, a falta de uma resposta global coordenada.

"Em vez de encontrarem formas de trabalhar em conjunto com vista a soluções comuns para responder a uma crise sem precedentes, os principais governos continuam a colocar os seus interesses nacionais à frente, às custas da resposta global de que precisamos", acusou.

Como exceção a essa regra, Durão Barroso referiu como bom exemplo a iniciativa Covax, criada em 2020 com o objetivo de assegurar ao acesso global às vacinas da Covid-19, e coliderada pela própria GAVI, pela Organização Mundial da Saúde e pela Coligação para a Inovação na Preparação para Epidemias.

"Ao assegurar o igual acesso às vacinas das pessoas nos países mais pobres, o Covax ajuda não só a salvar milhões de vidas, mas também oferece o melhor caminho para a recuperação", defende o presidente da GAVI.

De acordo com números citados no artigo, todos os meses são produzidas mais de 1,5 mil milhões de vacinas e prevê-se que, até ao final do ano, venham a ser produzidas mais de 12 mil milhões.

"É um feito surpreendente", reconhece Durão Barroso, que ressalva que, ainda assim, não é suficiente para vacinar todos os adultos do planeta. E acrescentou: "Ainda estamos longe desse objetivo, porque a distribuição é tão desigual".

Partindo do problema do acesso às vacinas, Durão Barroso reiterou que os países desenvolvidos, e em particular os membros do G20, têm o poder para liderar o caminho em direção ao fim da pandemia da Covid-19 se promoverem a distribuição de vacinas aos países mais pobres.

A medida é urgente, acrescentou, admitindo que é, contudo, um "penso rápido" para resolver uma crise dentro de outra crise.

"Para evitar a repetição da Covid-19, precisamos de mecanismos mais dispendiosos de preparação para pandemias, construídos em torno de um modelo de recursos globalizados. Não podemos esperar que o próximo surto se torne uma ameaça à segurança global. Por essa altura, será demasiado tarde", concluiu.

A Covid-19 provocou pelo menos 4.979.103 mortes em todo o mundo, entre mais de 245,47 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.153 pessoas e foram contabilizados 1.088.977 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

Leia Também: "Pandemia causou tensão" na parceria entre Europa e África

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