Num contexto diplomático tenso no Mali, onde as delegações diplomáticas vão sucedendo-se para pressionar Bamaco a regressar ao poder civil após dois golpes de estado em nove meses, Ilze Brands Kehris esteve seis dias no país, reunindo-se com as autoridades, sociedade civil e representantes do G5-Sahel, a organização regional de luta contra o terrorismo.
Em entrevista à agência de notícias AFP, a responsável explicou emergir desta sua visita "um sentimento positivo" de que existe "uma abertura ao diálogo" por parte das autoridades acerca da "espinhosa" questão do respeito pelos direitos humanos e da luta contra as violações, assinalando a "urgência de agir contra a impunidade".
Entre abril e junho, pelo menos 527 civis foram "mortos, feridos ou sequestrados/desaparecidos", segundo o último relatório da ONU divulgado no final de agosto.
O Mali é palco quase todos os dias de um confronto, um ataque ou a explosão de uma mina, desde que se encontra envolto num conflito multifacetado desde 2012, com o surgimento de grupos independentistas no norte do país.
Segundo Brands Kehris, deve ser "intensificada a luta contra a impunidade, contra as violações dos direitos humanos cometidas no campo do terrorismo", mas também "olhar para coisas que podem ser um pouco mais delicadas como a luta contra as violações dos direitos humanos dentro das forças armadas do Mali".
Na linha da frente desde o início do conflito, mal treinado e mal equipado, o exército do Mali é frequentemente acusado de violações dos direitos humanos. Num relatório publicado em 2020, uma comissão de inquérito independente da ONU acusou-o de "crimes de guerra".
"Há alguns sinais de que às vezes há bloqueios no sistema judicial", acrescentou a responsável, considerando que se deve "identificar onde estão esses bloqueios, quais motivos, e também continuar a passar a mensagem de que estamos lá, que estamos a olhar pelas pessoas, vemos de fora, mas também estamos prontos para estar lá para apoiá-los".
Independente desde 1960, o Mali viveu, em maio deste ano, o quinto golpe militar na sua história, depois dos episódios ocorridos em 1968, 1991, 2012 e 2020.
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