Primeiro-ministro das Ilhas Salomão diz que permanece no poder
O primeiro-ministro das Ilhas Salomão afirmou hoje que pretende permanecer no poder mesmo depois dos motins na capital, que considerou terem sido "orquestrados" por pessoas que o queriam afastar do cargo.
© Getty Images
Mundo Ilhas Salomão
"Não devemos e nunca nos curvaremos perante as más intenções de algumas pessoas", disse o primeiro-ministro num discurso televisivo.
A declaração ocorreu quando os residentes começaram a remover os escombros carbonizados das ruas da cidade à medida que a calma regressava.
Na esquina de uma rua em Chinatown, o epicentro dos incêndios e dos saques, estudantes com ancinhos e pás limpavam uma estrada.
As ruas circundantes estavam cheias de montes de destroços carbonizados em consequência da violência que irrompeu devido a graves dificuldades económicas aumentadas pela pandemia de covid-19 e pela raiva contra o governo.
Um recolher obrigatório noturno e a presença de uma força de manutenção da paz de cerca de 150 soldados e polícias da Austrália e da Papua Nova Guiné para ajudar a polícia local parecem ter acalmado a agitação.
"A situação acalmou e as pessoas estão a circular normalmente, mas ainda não sabemos o que poderá acontecer a seguir", disse Kennedy Waitara, oficial da Cruz Vermelha.
De acordo com a mesma fonte, muitas lojas de produtos alimentares foram destruídas durante os tumultos.
"Não seria surpreendente se tivéssemos escassez de alimentos e aumentos de preços", acrescentou.
"O desemprego está destinado a aumentar nas próximas semanas, uma vez que as pessoas estão condenadas a perder os seus empregos", sublinhou o funcionário da Cruz Vermelha que disse ter constatado o aumento de preços nas lojas.
Muitas pessoas estavam hoje demasiado preocupadas para assistirem à missa neste arquipélago cristão de 800.000 pessoas, disse Nason Ta'ake, um líder juvenil na Igreja Wesley em Honiara.
Ao saírem da igreja, foram em busca de alimentos e bens de primeira necessidade, mas muito poucas lojas estavam abertas, referiu.
Dois anos de encerramento de fronteiras devido à pandemia deixaram a já fraca economia das Ilhas Salomão num estado de colapso, com o desemprego e a pobreza a aumentar.
O primeiro-ministro estimou hoje que os motins tinham causado 25 milhões de dólares (22 milhões de euros) de prejuízos e destruído cerca de 1.000 postos de trabalho.
De acordo com o banco central, 56 edifícios foram queimados ou pilhados na capital.
O governante comprometeu-se ainda a punir os causadores da agitação.
"Já foram feitas detenções. As investigações estão em curso e seguir-se-ão mais detenções", disse.
Os cientistas forenses estão a tentar identificar os restos carbonizados de três corpos encontrados numa loja incendiada em Chinatown, disse a polícia.
O primeiro-ministro australiano Scott Morrison disse hoje que pretende ser informado com regularidade sobre o destacamento da força de manutenção da paz, acrescentando que esperava que as Fiji destacassem forças.
O líder australiano disse que cabia ao arquipélago resolver a crise, "não nos cabe interferir na sua democracia", dizendo que as forças australianas estavam apenas interessadas em restaurar a calma.
Muitos habitantes das Ilhas Salomão acusam o governo de ser corrupto e de estar em dívida para com Pequim e outros interesses estrangeiros. Na quarta-feira, os manifestantes pediram a demissão do primeiro-ministro antes de assaltarem o parlamento e tomarem as ruas da capital.
Mais de 100 pessoas foram presas em ligação com os motins, disse a polícia local no sábado.
À medida que a violência se intensificou, o primeiro-ministro apelou aos países vizinhos para que enviassem forças para restabelecer a calma.
No sábado, os líderes da oposição apelaram a um voto de não confiança no governo de Sogavare.
O líder pró-Pequim alegou que as potências estrangeiras que se opunham à decisão do seu governo de 2019 de deixar de reconhecer diplomaticamente Taiwan, e sim a China, estavam por detrás da agitação.
Outros apontam para tensões entre os residentes da ilha mais populosa de Malaita e Guadalcanal, onde se localiza a capital administrativa, e o elevado desemprego.
As Ilhas Salomão, que desde 1983 têm relações diplomáticas com Taiwan, optaram, em 2019, por romper com o território para reconhecer o Governo em Pequim como o único legítimo representante de toda a China. A China considera Taiwan uma das suas províncias, embora a ilha opere como uma entidade política soberana.
A decisão do Governo das Ilhas Salomão provocou o ressentimento de uma parte da população, que mantinha relações próximas com Taipé.
Na quarta-feira, centenas de pessoas protestaram para exigir a renúncia do primeiro-ministro, Manassah Sogavare, antes de seguirem para o distrito que reúne a comunidade chinesa na capital das Ilhas Salomão.
Os manifestantes incendiaram uma esquadra da polícia e saquearam lojas, até que a polícia interveio, lançando gás lacrimogéneo.
O primeiro-ministro Sogavare, que lamentou na quarta-feira o "triste e infeliz acontecimento que visa derrubar um governo democraticamente eleito", garantiu que permanecerá no poder.
As autoridades impuseram o recolher na capital Honiara, depois de um bloqueio de 36 horas ordenado pelo primeiro-ministro, que terminou na sexta-feira.
Leia Também: Polícia das Ilhas Salomão encontra três corpos após protestos violentos
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com