Quando uma multidão composta por várias centenas de pessoas irrompeu pelo edifício do Congresso, sede do poder legislativo norte-americano, muitos congressistas tiveram de ser levados para lugares seguros pela polícia do Capitólio, procurando proteger-se das ameaças físicas e verbais.
À medida que o perigo se aproximava e os invasores tentavam arrombar portas de gabinetes, congressistas ligavam às famílias e procuravam improvisar meios para se defenderem de eventuais ataques.
"Quando olhei para cima, percebi que estávamos presos", disse Jason Crow, um membro democrata da Câmara de Representantes (câmara baixa do Congresso), que se viu encurralado num dos pisos do Capitólio, durante a invasão de 06 de janeiro de 2021 por apoiantes de Trump que tentavam impedir que o Senado (câmara alta) validasse a vitória eleitoral de Joe Biden.
Crow, congressista eleito pelo Colorado, tinha sido soldado e cumprido três missões no Iraque e no Afeganistão, nos Rangers, e percebeu rapidamente que a situação no Capitólio era crítica.
"A polícia tinha evacuado o piso da Câmara de Representantes, mas tinha-se esquecido de nós", recorda hoje Crow, que compartilha o sentimento de trauma com vários outros congressistas que viveram momentos dramáticos durante o ataque ao Capitólio.
Crow lembra-se perfeitamente dos gritos dos agentes de segurança que pediam aos congressistas para permanecerem no chão, enquanto se ouviam portas a ser derrubadas e vidros a ser partidos, à medida que os invasores progrediam nos seus intentos.
"Sei bem o que são disparos de balas. Por isso, rapidamente percebi que alguns dos atacantes estavam armados e disparavam", disse Jason Crow.
"Acho que todos começámos a imaginar um massacre. Foi assustador", disse Peter Welch, outro membro democrata da Câmara de Representantes, eleito pelo estado de Vermont, recordando a tensão vivida durante a invasão do Capitólio.
A congressista democrata Val Demings estava entre os legisladores que se abrigaram na galeria do Capitólio e serviu-se da sua experiência de ter sido chefe do Departamento de Polícia de Orlando, na Florida, para manter a calma e transmitir confiança aos que a acompanhavam.
"Quando ouvi a polícia do Capitólio dizer que o edifício tinha sido 'violado', percebi que, de alguma forma, os agentes tinham perdido o controlo da situação", recorda Demings.
No dia seguinte ao ataque de 06 de janeiro de 2021, vários congressistas criaram um grupo na aplicação de mensagens WhatsApp e começaram a trocar mensagens sobre o acontecimento, recordando os episódios de risco por que tinham passado.
O grupo, intitulado "Grupo da Galeria", tornou-se uma espécie de sessão terapêutica, onde os congressistas de ambos os partidos (democratas e republicanos) se uniram num exercício de troca de experiências e de apoio mútuo, sendo evidentes as marcas deixadas pela violência da invasão do Capitólio.
O congressista republicano Kelly Armstrong, eleito pelo Dakota do Norte, foi um dos que esteve na galeria no início da invasão e tornou-se um dos elementos mais ativos no grupo do WhatsApp, procurando recolher depoimentos sobre os acontecimentos e tentando sossegar aqueles que nessa altura ainda temiam por réplicas do ataque de 06 de janeiro.
Alguns congressistas, nas semanas seguintes, procuraram mesmo ajuda médica especializada, tendo sido diagnosticados com a doença de 'stress' pós-traumático, provocada pela tensão da invasão do Capitólio.
"Mas foi o grupo do WhatsApp que mais me ajudou a superar o trauma do ataque, com as mensagens de apoio que fomos trocando", reconheceu a congressista democrata Norma Torres, eleita pela Califórnia.
Os acontecimentos ocorridos a 06 de janeiro de 2021 ficaram marcados pela morte de cinco pessoas e mais de uma centena de polícias agredidos.
Leia Também: Três agentes da polícia juntam-se a outros nove e processam Trump