Guterres pede descongelamento de fundos afegãos para evitar desastre
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu hoje o fim do congelamento dos fundos afegãos para evitar uma catástrofe humanitária no Afeganistão com a chegada do inverno, num apelo urgente na sua primeira comparência anual na ONU.
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"Devem ser suspensas as regras e condições que impedem que o dinheiro chegue [ao Afeganistão] para salvar vidas e reativar a economia", agora que se unem "numa combinação letal as gélidas temperaturas [invernais] e o congelamento de fundos", disse Guterres numa alusão à posição ainda mantida pelos Estados Unidos.
O chefe da ONU assinalou que as operações humanitárias no país requerem o desembolso de cinco mil milhões de dólares (4,36 mil milhões de euros) para 2022, destinados à manutenção de escolas e dos hospitais, ao pagamento dos funcionários e ao fornecimento de água e eletricidade, "funções essenciais do Estado".
Pelo contrário, advertiu, "o desespero e o extremismo vão aumentar em simultâneo com os desejos de abandonar o país. "Estamos numa corrida contra o tempo", advertiu.
Na quarta-feira, no decurso de conversações em Doha com representantes norte-americanos, os talibãs pediram que sejam desbloqueados os fundos congelados nos EUA, avaliados em 9,5 mil milhões de dólares (8,3 mil milhões de euros) pertencentes ao Banco Central do Afeganistão.
Guterres disponibilizou hoje a colaboração da ONU para criar um sistema de controlo de contas após o eventual envio dos fundos congelados "para evitar que sejam desviados" pelas autoridades de Cabul, e quando a ONU ainda não reconheceu oficialmente o Executivo talibã.
O secretário-geral da ONU reconheceu que o seu apelo se dirige principalmente aos Estados Unidos, pelo facto de neste país permanecerem "muitos dos fundos congelados", e quando o sistema financeiro internacional continua a funcionar, na generalidade, em dólares.
Guterres também considerou que os talibãs devem reconhecer direitos fundamentais, em particular os das mulheres, pelo facto de "cientistas, professoras e outras profissionais estarem a desperdiçar as suas vidas no Afeganistão" quando "nenhum país pode negar direitos a metade da sua população".
Pouco antes, os talibãs tinham anunciado a aprovação do primeiro orçamento desde o seu regresso ao poder no Afeganistão, em agosto, que não inclui qualquer ajuda internacional e abrange os três primeiros meses de 2022, indicou hoje o Ministério da Finanças local.
"Pela primeira vez desde há duas décadas, elaborámos um orçamento que não depende da ajuda internacional. É um grande êxito para nós", declarou à agência noticiosa AFP Ahmad Wali Haqmal, porta-voz do ministério.
Desde a chegada ao poder dos talibãs que os doadores suspenderam a ajuda internacional, que representava até 80% do orçamento afegão.
Este orçamento de 53,9 mil milhões de afghanis (450 milhões de euros), aprovado na terça-feira, destina-se apenas ao primeiro trimestre de 2022 e é quase totalmente consagrado às despesas de funcionamento do Governo.
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