O governo etíope pediu na quinta-feira uma investigação ao director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pelos seus comentários sobre a situação humanitária em Tigray, de onde o próprio é originário.
A OMS disse hoje estar "ciente de que o Ministro dos Negócios Estrangeiros etíope tinha enviado uma nota verbal". Mas a OMS "continuará a apelar ao governo etíope para que permita o acesso humanitário aos sete milhões de pessoas que vivem em Tigray, que têm estado sob um bloqueio de facto há mais de um ano, segundo a ONU", insistiu a organização.
A OMS acrescentou que a crise em Tigray está a ser tratada da mesma forma que todas as crises humanitárias em que a OMS é chamada a intervir, e lembrou que não tem sido capaz de fornecer material médico à região desde 15 de julho de 2021.
Na quinta-feira, o governo etíope disse, numa declaração, que afirmações de Tedros Adhanom Ghebreyesus ameaçavam a integridade da OMS, apelando a uma investigação contra ele por "má conduta e violação da sua responsabilidade profissional e legal".
"Em nenhum outro lugar do mundo vemos uma situação tão infernal como em Tigray", tinha dito o diretor-geral da OMS, levando o governo etíope a reagir.
O líder da OMS disse ainda ser "terrível e inimaginável nos dias de hoje, no século XXI, que um governo negue ao seu próprio povo, durante mais de um ano, o acesso a alimentos, medicamentos e tudo aquilo de que este necessita para sobreviver".
O responsável apelou ainda a uma resolução "política e pacífica" do conflito.
Tedros Adhanom Ghebreyesus "interferiu nos assuntos internos da Etiópia, incluindo as relações da Etiópia com o Estado da Eritreia", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros etíope, citando uma carta enviada à OMS.
O governo etíope acusa Tedros Ghebreyesus de apoiar as Forças Populares de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), um partido que governou a Etiópia durante quase 30 anos, até à chegada do atual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, ao poder.
A missão da Etiópia nas Nações Unidas também protestou contra as observações do chefe da OMS e exortou-o a "recusar-se de todos os assuntos relativos à Etiópia".
O chefe do governo etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal a Tigray em novembro de 2020 para retirar as autoridades regionais da TPLF, que desafiaram a sua autoridade e que ele acusou de atacarem bases militares.
O conflito resultou em vários milhares de mortos, mais de dois milhões de deslocados e centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, segundo a ONU.
O bloqueio da ajuda humanitária na província etíope de Tigray faz com que a população viva um verdadeiro "inferno", único no mundo, e é um "insulto à humanidade", denunciou, na quarta-feira, a OMS.
"Em nenhum outro lugar do mundo estamos a testemunhar um inferno como em Tigray", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que falava na conferência de imprensa diária daquela agência da ONU e que nasceu naquela província do norte da Etiópia, palco desde 04 de novembro de 2020 de confrontos entre forças governamentais e os rebeldes das da TPLF.
"É inacreditável e inimaginável que no nosso tempo, no século XXI, um governo negue ao seu próprio povo, há mais de um ano, acesso a alimentos, remédios e tudo mais que necessita para sobreviver", salientou Tedros, que defendeu a resolução "política e pacífica" do conflito.
A região, segundo a ONU, está sujeita a um "bloqueio de facto", e precisa de ajuda humanitária, como alimentos e remédios.
Desde julho do ano passado que a OMS não está autorizada a enviar medicamentos e equipamento médico para Tigray, apesar de repetidos pedidos, feitos mesmo junto do gabinete do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed -- laureado com o Nobel da Paz em 2019 -, e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, segundo Tedros Ghebreyesus.
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