Em causa, confirmaram à Lusa fontes oficiais da Comissão Política Nacional (CPN) do partido, está o debate sobre os critérios que têm que ser cumpridos pelo candidato a apoiar pelo partido e o nome desse candidato presidencial: "A conferência nacional vai reunir-se no sábado para debater estas questões e escolher o candidato que será apoiado pelo partido".
A questão da candidatura presidencial tem sido debatida amplamente nas estruturas do CNRT, sendo um dos temas na agenda das dezenas de conferências subnacionais do CNRT que decorreram até outubro do ano passado.
O debate é marcado pela possibilidade de o partido apoiar a candidatura de José Ramos-Horta, ex-Presidente da República, e que nos últimos tempos apareceu várias vezes em eventos públicos, especialmente a nível regional, ao lado de Xanana Gusmão.
Essa possibilidade não é consensual, com muitos a questionarem o facto de o partido nunca ter apoiado um candidato dos seus quadros.
Um dos membros da CPN ouvidos pela Lusa explicou que desde que o CNRT foi criado em 2007 sempre apoiou candidatos que não são do partido "e que depois de eleitos nem sequer cumprem promessas e acordos".
"Respeitamos Xanana Gusmão como líder do partido, e ele tem a prorrogativa de dizer o 'sim' final, mas temos que internamente discutir isto e definir bem os critérios", sublinhou.
Em 2007 membros do partido e o próprio presidente, Xanana Gusmão, apoiaram a candidatura de Ramos-Horta, tendo apoiado cinco anos depois a de Taur Matan Ruak e há cinco anos a do atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo.
"José Ramos-Horta é uma possibilidade forte, mas não há qualquer certeza", explicou à Lusa um dos dirigentes do partido.
Instado a comentar a questão, o próprio José Ramos-Horta disse à Lusa que Xanana Gusmão e o CNRT mantém "um segredo papal" sobre as suas decisões internas de "avançar com apoio a algum candidato interno do CNRT ou externo".
Ainda assim, considerou, "praticamente todos os observadores dos 'media', académicos e grupos de apoio que têm surgido, apontam para mim como preferido de Xanana Gusmão".
"Eu afianço que não sei de nada e devo dizer que o CNRT e o Xanana Gusmão têm-se portado corretamente, fazendo consultas internas do partido e quem for o candidato será candidato consensual do partido e não necessariamente eu próprio", disse.
O CNRT quer que o candidato que apoie, seja ou não membro do partido, cumpra um conjunto de requisitos que considera essenciais no momento atual, explicou outro dirigente partidário.
Em concreto, tem que ser uma "personalidade com grande capacidade internacional para ajudar a promover Timor-Leste no exterior", alguém que "tem que cumprir as regras constitucionais", que "fale bem português e tétum", as duas línguas oficiais e que "garanta a estabilidade do Estado".
Critérios que Ramos-Horta cumpre, mas que outros dirigentes partidários também, com os nomes de ex-ministros como Agio Pereiro e Dionisio Babo a serem apontados como possíveis candidatos.
Independentemente de quem for o candidato apoiado pelo CNRT, se vencer terá algumas questões para resolver a começar pela sua própria tomada de posse.
O partido considera, por exemplo, que o atual presidente do Parlamento não está no cargo legitimamente, afirmando que a sua eleição em maio de 2020 -- numa sessão polémica do plenário que envolveu confrontos físicos e troca de insultos -- não respeitou o regimento e a legalidade.
Recorde-se que a Constituição define que o Presidente da República é investido pelo presidente do Parlamento Nacional, tomando posse numa cerimónia pública perante os deputados e representantes dos demais órgãos de soberania.
Ramos-Horta reconheceu hoje que isso é uma questão "bicuda" para o candidato apoiado pelo CNRT resolver.
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