Burkina Faso. "Golpes de Estado são inaceitáveis", diz António Guterres

O secretário-geral das Nações Unidas disse hoje que os "golpes militares são inaceitáveis", numa referência à situação no Burkina Faso, e apelou aos militares na África Ocidental para que "defendam o seu país, não que ataquem os seus governos".

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Lusa
25/01/2022 16:13 ‧ 25/01/2022 por Lusa

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Burkina Faso

"Peço às forças armadas desses países que assumam o seu papel profissional como exércitos para proteger o país e restaurar as instituições democráticas", disse António Guterres, que falava à imprensa antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a proteção de civis em conflitos armados.

"O papel dos militares deve ser defender o seu país e o seu povo, não atacar o seu governo e lutar pelo poder", insistiu, sublinhando que, na região, "grupos terroristas" ameaçam a paz e a segurança internacionais.

Questionado sobre as manifestações de apoio ao golpe militar no Burkina Faso, na sequência do derrube do Presidente Roch Marc Christian Kaboré, António Guterres respondeu ser "fácil" organizá-las.

"Há sempre celebrações nesse tipo de situações", disse, acrescentando: "É fácil orquestrá-las, mas os valores da democracia não dependem da opinião pública num momento ou outro".

Centenas de manifestantes manifestaram apoio nas ruas da capital burquinabê, Ouagadougou, à ação dos militares e ao derrube de Kaboré, cuja "libertação imediata" foi exigida pela ONU em Genebra.

Os militares que iniciaram no domingo um golpe de Estado no Burkina Faso confirmaram na segunda-feira, também numa declaração na televisão estatal, que tomaram o poder e anunciaram a dissolução do Governo e do parlamento.

Na aparição televisiva, em que surgiram mais de uma dúzia de militares, um porta-voz, o capitão Sidsoré Kader Ouédraogo, leu dois comunicados, dando conta que os militares puseram fim ao poder do Presidente burquinabê, Roch Kaboré, que governava este país da África ocidental desde 20215.

Na mensagem, o chamado Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração anunciou que iria trabalhar para estabelecer um calendário "aceitável para todos" para a realização de novas eleições, sem adiantar mais pormenores.

O Presidente Kaboré, no poder desde 2015 e reeleito em 2020 com a promessa de lutar contra os terroristas, tem vindo a ser cada vez mais contestado por uma população atormentada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças armadas do país responderem ao problema da insegurança.

Kaboré lidera o Burkina Faso desde que foi eleito, em 2015 (reeleito em 2020), após uma revolta popular que expulsou o então Presidente, Blaise Compaoré, no poder durante quase três décadas.

Ainda que reeleito em novembro de 2020 para mais um mandato de cinco anos, Kaboré não conseguiu combater a frustração que tem vindo a crescer devido à sua incapacidade de conter a propagação da violência terrorista no país.

Os ataques ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico têm vindo a aumentar sucessivamente desde a chegada ao poder do atual Presidente, reclamando já milhares de vidas e forçando a deslocação de um número estimado pelas Nações Unidas de 1,5 milhões de pessoas.

Também os militares vêm a sofrer baixas desde que a violência extremista começou em 2016. Em dezembro último, mais de 50 elementos das forças de segurança foram mortos na região do Sahel e nove soldados foram mortos na região centro-norte em novembro.

Leia Também: Venezuela acusa os EUA de impedir a sua participação no sistema da ONU

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