Segundo relatos de familiares da vítima, o crime aconteceu na noite de 24 de janeiro quando o congolês Moise Kabagambe, de 24 anos, que vivia no Brasil desde 2014 na condição de refugiado, foi ao restaurante Tropicália, localizado na praia da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, cobrar dois dias de trabalhos prestados no estabelecimento e acabou por ser espancado até a morte.
O corpo do jovem foi encontrado amarrado numa escada. Testemunhas citadas pelos 'media' locais alegam terem visto pelo menos cinco pessoas a espancar o imigrante, mas até agora ninguém foi preso.
Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) indicou que a causa da morte de Moïse Kabagambe foi traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, causada por ação contundente.
O caso tem ganhado repercussão nas redes sociais, com muitos artistas, ativistas e internautas brasileiros frisando a possivel motivação racial para o crime e exigindo que os envolvidos sejam encontrados e punidos.
O cantor brasileiro Mano Brown, que integra os Racionais MC's, um dos mais importantes grupos de rap do país, usou as redes sociais para divulgar a campanha pedindo #JustiçaParaMoïse.
A atriz Thais Araújo também frisou no Instagram: "É urgente que se faça justiça, não podemos transformar barbárie em naturalidade. O Brasil transformou a escravidão, que foi uma grande barbárie, em uma coisa normal. As pessoas romantizam e reproduzem o Brasil colónia até hoje!"
"Moïse Mugenyi foi amarrado e espancado até à morte e até agora não vimos a cara de nenhum dos suspeitos, só a cara da vítima e de sua família. E o absurdo é que essa não é a primeira história que a gente vê contada dessa maneira", acrescentou.
A Amnistia Internacional Brasil publicou na rede social Twitter uma mensagem destacando que "Moïse Kabamgale e sua família deixaram o Congo na esperança de viver uma vida digna e com mais oportunidades no Brasil. Sonho que foi covardemente interrompido pelo racismo e pela xenofobia. Seu assassínio não pode ficar impune! #JusticaPorMoise."
O advogado, professor e filósofo Silvio Almeida também se manifestou sobre o caso nas redes sociais salientando: "Um homem negro foi assassinado quando reivindicava direitos trabalhistas e ainda há quem negue que racismo seja relação de poder e que tenha profundos laços com a economia. Certamente aparecerá algum inocente ou canalha (ou os dois) para dizer que não foi racismo."
A equipa de futebol 'carioca' do Flamengo solidarizou-se com a família da vítima, numa mensagem na qual destacou que "lamenta imensamente a morte de Moïse Kabagambe e presta sua solidariedade à família do jovem congolês neste momento de total consternação".
O jogador de futebol Gabriel Barbosa Almeida, conhecido como 'Gabigol', também usou as redes sociais para frisar que "esse não é o Rio que aprendi a amar e que me recebeu de braços abertos!!!".
"Queremos justiça, não podemos normalizar crimes como esse!! Que seja feita justiça a Moïse Mugenyi e toda sua família!! Estamos juntos de vocês", referiu ainda.
O governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, escreveu no seu perfil no Twitter que "o assassínio do congolês Moïse Kabamgabe não ficará impune".
"A @PCERJ [Polícia Civil do Rio de Janeiro] está identificando os autores dessa barbárie. Vamos prender esses criminosos e dar uma resposta à família e à sociedade. A Secretaria de Assistência à Vítima vai procurar os parentes para dar o apoio necessário", garantiu.
Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse nas redes sociais que o assassínio "de Moïse Kabamgabe é inaceitável e revoltante".
"Tenho a certeza de que as autoridades policiais atuarão com a prioridade e rigor necessários para nos trazer os devidos esclarecimentos e punir os responsáveis. A prefeitura acompanha o caso", acrescentou.
Imagens obtidas pelo jornal O Globo mostram um grupo de agressores dando murros, pontapés e até golpes com pedaços de pau no congolês na noite do crime.
Momentos depois, com a vítima já desmaiada no chão, estes homens tentam, com a ajuda de outras pessoas, reanimá-la.
As imagens também mostram que os agressores chegaram a amarrar as mãos e os pés de Moïse Kabamgabe com um fio.
Segundo o jornal brasileiro, a sequência de imagens captadas por câmeras de segurança instaladas no local já estão a ser analisada por agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), do Rio de Janeiro, que investigam o caso.
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