De acordo com uma nota da Presidência da República cabo-verdiana enviada à Lusa, José Maria Neves falou ao início da noite com o Presidente da Guiné-Bissau e "constatou que o seu homólogo e os membros do Governo bissau-guineense estão livres de perigo e a situação já está a retornar à normalidade", referindo-se à tentativa de golpe de Estado vivida hoje em Bissau.
De acordo com a mesma nota, José Maria Neves manifestou ainda a sua solidariedade ao Governo e ao povo da Guiné-Bissau, tendo transmitido que "acompanha com grande preocupação os acontecimentos ocorridos nas últimas horas" e que "condena o recurso à força como forma de subverter a ordem e provocar alterações em relação ao poder vigente".
"Tal como os demais chefes de Estado da CEDEAO, faz um veemente apelo no sentido do regresso à normalidade e ao respeito pela integridade física dos dirigentes do país e que se evite a perda de vidas humanas entre a população. Espera igualmente que os militares recolham aos quartéis, numa postura republicana, e que a Constituição seja respeitada", lê-se na nota da Presidência cabo-verdiana.
Vários tiros foram ouvidos hoje perto da hora de almoço junto ao Palácio do Governo da Guiné-Bissau onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.
Entretanto, segundo fonte governamental, militares entraram cerca das 17:20 no palácio do Governo e ordenaram a saída dos governantes que estavam no edifício.
As relações entre o chefe de Estado e do executivo têm sido marcadas por um clima de tensão, agravada nos últimos meses de 2021 por causa de um avião Airbus A340, que o Governo mandou reter no aeroporto de Bissau, onde aterrou vindo da Gâmbia, com autorização presidencial, e pela recente remodelação governamental.
A tentativa de golpe de Estado já foi condenada pela União Africana, pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), através da presidência angolana, pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por Portugal e por São Tomé e Príncipe.
O Presidente guineense já agradeceu às forças de defesa e segurança terem conseguido frustrar esta tentativa de golpe de Estado, considerando que constituiu um "atentado à democracia".