Primeiro-ministro do Mali acusa França de promover a divisão do país

O primeiro-ministro do Mali, Choguel Kokalla Maïga, acusou na segunda-feira a França de ter dividido o seu país através da intervenção militar, uma nova acusação forte proferida perante os diplomatas presentes em Bamako.

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Lusa
07/02/2022 23:56 ‧ 07/02/2022 por Lusa

Mundo

Choguel Kokalla Maïga

Choguel Kokalla Maïga, que é o atual chefe do governo instalado pela junta militar que chegou ao poder após um golpe de Estado em agosto de 2020, 'atacou' a França durante mais de 45 minutos, diante de diplomatas, reunidos a seu pedido.

"Depois de [um] momento de alegria" em 2013, quando os soldados franceses libertaram o norte do Mali, que havia caído para o controlo de grupos 'jihadistas', "a intervenção mais tarde transformou-se numa operação para dividir de facto o Mali que [consistiu em] santificar parte do nosso território, onde os terroristas tiveram tempo de se refugiarem e de se reorganizarem para voltar em força a partir de 2014", defendeu, citado pela agência AFP.

Num momento de fortes tensões entre Paris e Bamako, o chefe do governo aludiu a uma memória da Segunda Guerra Mundial: "Os norte-americanos não libertaram a França? (...) Quando os franceses julgaram que [a presença norte-americana na França] não era mais necessária, eles disseram aos norte-americanos para sair, os norte-americanos começaram a insultar os franceses?", questionou.

Desde que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) impôs sanções ao Mali, em 09 de janeiro, decisão apoiada pela França e vários parceiros, a junta militar bem apontando para a soberania do território.

As autoridades malianas acusam a França de ter explorado a CEDEAO.

Para o primeiro-ministro, o objetivo é apresentar as autoridades no poder como "párias" e a curto prazo "asfixiar a economia" para alcançar "a destabilização e a derrubada das instituições da transição".

Os líderes franceses "nunca disseram à opinião pública, quando intervieram em 2013, que iriam dividir o Mali", atirou.

"Não podemos ser vassalos, não podemos escravizar o país, acabou", realçou, numa referência à colonização.

O Mali está mergulhado numa crise de segurança desde 2012 devido ao surgimento de vários movimentos 'jihadistas' ligados à Al-Qaida ou ao grupo extremista Estado Islâmico, que aproveitaram a fraqueza do país para avançar pelo Sahel, e devido a dois golpes em 2020 e 2021.

Em 04 de fevereiro, centenas de milhares de malianos manifestaram-se em Bamaco para exigir a saída das tropas francesas do Mali e expressar apoio à junta militar que lidera o governo de transição.

A União Europeia (UE) sancionou em 04 de fevereiro cinco membros do governo de transição do Mali, incluindo o primeiro-ministro, Choguel Maïga, por "ações que obstruem e prejudicam a conclusão bem-sucedida da transição política" no país.

O anúncio das sanções da UE seguiu-se ao dos países da CEDEAO, que impuseram medidas restritivas com o objetivo de obter rapidamente compromissos do Governo de Transição do Mali para organizar eleições.

Leia Também: Malianos manifestam-se para exigir saídas das tropas francesas

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