O Conselho de Direitos Humanos da ONU lançou em dezembro, apesar da oposição de Adis Abeba, uma investigação internacional sobre os abusos que têm acompanhado o conflito entre o Governo federal etíope e os rebeldes na região do Tigray desde novembro de 2020.
Todos os beligerantes são acusados de múltiplas atrocidades, incluindo massacres e violações em massa.
A ONG internacional Legal Action Worldwide (LAW), que afirma "representar as vítimas do Tigray que deram os seus testemunhos, mas não podem ser registadas como queixosas devido a receios de represálias por parte do Governo", anunciou ter apresentado uma queixa em seu nome à Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (ACHPR), organismo da União Africana.
"A Etiópia é responsável por uma vasta gama de violações dos direitos humanos garantidos pela Carta Africana, incluindo ataques militares contra civis e infraestruturas civis, execuções em massa e extrajudiciais, violência baseada no género, detenções e prisões arbitrárias", disse a organização de advogados, num comunicado citado pela agência France-Presse (AFP).
"A queixa exige que a ACHPR ordene à Etiópia que cesse todas as violações e violência contra civis no Tigray, permita o livre acesso de ajuda humanitária e alimentos à região e garanta a proteção dos direitos humanos de todos os etíopes, particularmente no Tigray", afirmou.
Não houve qualquer reação imediata por parte do Governo etíope ou da Comissão Africana, sediada em Banjul.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2019, enviou o exército federal para o Tigray em novembro de 2020 para retirar as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), que desafiou a sua autoridade e a quem acusou de atacar bases militares.
O conflito causou vários milhares de mortos, mais de dois milhões de deslocados e centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com as Nações Unidas.
Tigray tem estado sob o que a ONU chama um "bloqueio de facto" da ajuda humanitária há vários meses.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) estimou em janeiro que quase 40% da população do Tigray estava a sofrer de "extrema escassez alimentar".
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