"O principal responsável por esta situação é um homem que eu prezei muito e que durante muito tempo me tratou por sobrinho e que tinha muita estima por mim, mas que a dado passo deste percurso decidiu enveredar por outros caminhos, que se têm traduzido numa oposição ferrenha contra o nosso partido, sem entendermos qual a razão para tal", afirmou Domingos Simões Pereira, referindo-se ao general Biagué Na N´Tan.
Salientando que conhece o general há cerca de 40 anos, Domingos Simões Pereira disse que a imagem que tem de Biagué Na Ntan é a de um homem "integro" e que "sempre esteve ao lado da legalidade e da verdade".
"Quero dizer ao general que continuo a ser a mesma pessoa e a violência não faz parte das minhas opções de vida e muito menos os golpes de Estado", afirmou o líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Domingos Simões Pereira falava aos jornalistas e a cerca de 300 apoiantes e militantes do partido, que hoje se juntaram na sede do PAIGC, em Bissau, junto à qual era visível a presença das forças de segurança.
Sobre a tentativa de golpe de Estado do passado dia 01 de fevereiro, o líder do PAIGC disse que esperava do chefe das Forças Armadas "a exigência de um inquérito rigoroso, sério, isento e competente".
"Em vez disso, ouvimos ser ordenada a prisão de pessoas, não sabemos baseado em que indícios, casas de pessoas a serem violadas sem mandado judicial, acusações políticas transformadas em sentenças para cumprimento imediato", disse.
"Eu escolhi fazer política para servir o meu país e estou preparado para o fazer enfrentando todos aqueles que decidiram estar no mesmo espaço, utilizando os instrumentos políticos e legais que estão ao nosso dispor", disse o líder do PAIGC.
Mas, salientou, quando se "envolvem elementos estranhos, quando são as Forças Armadas a entrar no jogo, isso muda diametralmente o equilíbrio das forças e enviesa o jogo".
"Razão por que temos de reconhecer que não é Sissoco Embaló que nos oprime e quer abusar, mas as forças que são postas ao seu dispor, mesmo quando em claro desrespeito e em violação flagrante da Constituição", sublinhou, referindo-se ao Presidente guineense.
Domingos Simões Pereira justificou as suas afirmações com o facto de as forças armadas terem viabilizado a "tomada de posse simbólica" do atual chefe de Estado enquanto decorria um processo de contencioso eleitoral, considerando que é por isso que o chefe de Estado hoje não respeita as instituições, "nomeadamente a Assembleia Nacional Popular".
Nesse sentido, o líder do PAIGC questionou o chefe das Forças Armadas sobre se está de acordo com a venda do petróleo do país sem consentimento dos guineenses, se se podem vender ilhas do país ou alugar o território para a guerra com Casamansa, região senegalesa que faz fronteira a norte com a Guiné-Bissau e que luta há décadas pela sua independência.
Domingos Simões Pereira destacou também que quando recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça no âmbito do contencioso eleitoral das presidenciais não estava a "comprometer a democracia", mas a "reforçar as instituições da República".
"O que comprometeu todo o processo foi o envolvimento dos militares, que interromperam uma disputa que era salutar e importante em democracia. Hoje até a eleição de juízes envolve a força, a expulsão de uns e a instalação de outros", disse.
"Temos de chamar a atenção do general de que pode estar a ser usado e amanhã é quem terá de responder por tudo o que aconteceu", afirmou.
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