"A nível de mobilização de recursos, está tudo bem encaminhado. A entrega requer uma logística importante que os Estados-membros têm de organizar, e tem de ser feita rapidamente. Mas nós estamos numa guerra e não vou dar nenhuma informação que possa servir à parte que enfrentamos. Estou certo de que a Rússia ficaria muito contente ao saber por onde e como vai passar a ajuda que vamos dar" ao exército ucraniano para se defender, disse Josep Borrell.
O Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa e de Segurança falava numa conferência de imprensa, em Bruxelas, após uma videoconferência de ministros da Defesa dos 27, realizada para discutir a nível "mais técnico" a aplicação do histórico pacote de apoio de 450 milhões em armamento para a Ucrânia acordado na véspera pelos ministros dos Negócios Estrangeiros.
Nas mesmas declarações, Borrell lembrou que Moscovo já avisou que atacará "qualquer pessoa ou entidade que transporte essa ajuda", pelo que se escusou a avançar com "qualquer detalhe que lhes possa ser útil".
Borrell, que na véspera agradecera à Polónia ter-se oferecido como 'hub' logístico para a transferência da assistência material à Ucrânia, limitou-se a dizer que, "naturalmente", a mesma "passará por países que têm fronteira com a Ucrânia, isso não é segredo", e adiantou que foi decidido criar uma célula, que trabalhará em coordenação com a NATO, para acompanhar "os pedidos e necessidades da Ucrânia" e o encaminhamento do armamento, que inclui material defensivo, designadamente antitanques, e armas e munições de todos os calibres.
O Alto Representante salientou que os ministros da Defesa trabalharam hoje muito "na coordenação dos esforços para garantir a máxima eficácia" não só da mobilização e entrega das armas adquiridas com o financiamento de 450 milhões de euros, mas também daquelas fornecidas às forças armadas ucranianas por diversos Estados-membros numa base bilateral.
Borrell revelou que a Ucrânia solicitou também mais apoio a nível de informação militar, estando já a UE a mobilizar o seu centro de satélites, com sede em Madrid, para "trabalhar nesse sentido".
O chefe da diplomacia europeia indicou ainda que foi feita uma avaliação da evolução da situação militar no terreno, com base em informação recolhida por diversos Estados-membros, e a conclusão é que "a campanha militar da Rússia está a tornar-se cada vez mais brutal".
Mas, sublinhou, que "as forças armadas ucranianas estão a lutar com coragem" e enganou-se "quem dizia que a queda de Kiev era uma questão de horas", pois a capital continua a resistir, assim como Mariupol e Kharkiv.
Todavia, o Alto Representante reconheceu que "é vital" apoiar as forças armadas ucranianas face a um agressor com muitos mais meios militares.
"Precisam de munições, armas de defesa de qualquer tipo, e vamos fornecer-lhes", disse, reiterando que a decisão de domingo da UE, apoiada "por todos, todos os Estados-membros", de providenciar assistência militar a um país terceiro alvo de agressão é histórica e marca um novo capítulo na construção europeia.
No domingo, naquela que foi a sua quarta reunião no espaço de uma semana, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 deram aval a um pacote de 450 milhões de euros para financiar o fornecimento de armas letais ao exército ucraniano, que luta contra a invasão russa, numa decisão que marca uma viragem histórica na UE.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev.
A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e quase 500 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldávia e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.
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