Abdel Jalafallah, porta-voz das FLM, que junta partidos políticos e organizações da sociedade civil expulsas do governo no Sudão no golpe militar de outubro passado, disse à agência noticiosa Efe que o estabelecimento da base seria um "passo perigoso que envolveria o país nos eixos internacionais e provocaria uma crise com os países árabes e ocidentais".
A crítica é uma reação às declarações feitas pelo vice-presidente do mais importante órgão do governo no Sudão, general Mohamed Hamdan Dagalo "Hemedti", após uma viagem oficial a Moscovo em que disse que o seu país está disponível em permitir que a Rússia estabeleça uma base naval na sua zona costeira no mar Vermelho.
"Não há objeção em negociar com a Rússia ou outros para estabelecer uma base militar se for do interesse do Sudão e não ameaçar sua segurança nacional", disse Dagalo em comentários no aeroporto de Cartum ao regressar quarta-feira da Rússia.
Jalafallah considerou que a visita de Dagalo à Rússia "prejudicará as relações externas do Sudão com os Estados Unidos e a União Europeia" e acusou Moscovo de interferir nos assuntos internos do Sudão ao apoiar o golpe militar de 25 de outubro.
A Rússia aspira a estabelecer no Sudão o que seria a sua primeira base militar no mar Vermelho e a segunda no exterior depois da de Tartus, na Síria.
Moscovo começou a negociar a instalação da base em 2017 com o antigo ditador Omar al-Bashir, mas após o derrube deste, em 2019, o governo de transição composto por civis e militares não chegou a adotar uma decisão sobre o assunto.
No final de 2020, o governo de transição para eleições democráticas composto por civis e militares também não tomou nenhuma decisão sobre a pretensão russa.
Agora, após a visita à Rússia, Dagalo afirmou que a questão da base militar russa é de responsabilidade exclusiva do Ministério da Defesa sudanês.
A deslocação a Moscovo em plena invasão da Ucrânia pelas forças armadas russas suscitou as suspeitas da União Europeia, cujos embaixadores pediram ao governo sudanês que clarifique a sua posição sobre a intervenção militar, perante a qual emitiu um comunicado em que pediu à Rússia e à Ucrânia que ponham termo à escalada mútua no conflito.
Acresce que na quarta-feira o Sudão absteve-se na votação, na Assembleia Geral da ONU, sobre uma resolução a condenar a invasão russa da Ucrânia, que foi apoiada por 141 dos 193 Estados-membros da organização.
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