Russos abandonam o país. "Não tenciono lutar nesta guerra"

Russos que estão contra a guerra tentam sair do país com medo da lei marcial e consequências económicas.

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Notícias ao Minuto
03/03/2022 20:06 ‧ 03/03/2022 por Notícias ao Minuto

Mundo

Ucrânia/Rússia

À medida que os ucranianos se veem obrigados e deixar o seu país, também um número crescente de russos está a abandonar o sítio que os viu nascer, receosos de uma possível lei marcial e das consequências da guerra - com a qual apenas 45% da população concorda. 

É o caso de Alexei Trubetskoy, que conta ao The Guardian que no dia 24 de manhã, assim que viu as notícias da invasão, soube que tinha de deixar a Rússia. 

"Levantei-me, vi as notícias e percebi que tinha de partir assim que pudesse", conta o diretor de uma escola de língua inglesa em Moscovo. Nesse mesmo dia, comprou um bilhete para o Sri Lanka.

"Ficou claro para mim que a horrível invasão ia mudar a Rússia para sempre".

"Espero regressar ao país que amo, mas não está completamente claro o que irá acontecer a seguir. O meu futuro é-me tirado, o país não será o mesmo", disse ainda Trubetskoy.

Quem deixa a Rússia teme a lei marcial - que obriga homens a lutar na guerra - e consequências económicas e políticas. O rublo russo e os mercados financeiros caíram esta semana após o Ocidente ter implementado sanções , e Moscovo também assistiu a um êxodo em massa de empresas ocidentais como a Ikea, Apple, H&M e Nike.

Mas quem fica e discorda da guerra enfrenta as consequências desta mas também a prisão. Mais de 7.500 pessoas foram detidas até agora em protestos antiguerra em todo o país, de acordo com o site de monitorização independente OVD-Info. Também os meio de comunicação social enfrentam dias negros, com jornais independentes e fora da influência de Putin e serem forçados a evitar palavras como "invasão" e "guerra".

Segundo o mesmo jornal, a análise do Google mostrou que a palavra "emigração" sofreu um pico de buscas durante a última semana, enquanto inúmeros canais de 'Telegram' foram criados, nos quais os russos preocupados estão a discutir formas de deixar o país.

"Reuni a minha família depois de um amigo no 'topo' me ter telefonado sobre esta coisa da lei marcial. Reservámos o primeiro avião disponível na terça-feira e voámos para um país aleatório onde nunca tinha estado antes", disse ao mesmo jornal Anton, um diretor sénior de uma grande empresa russa de petróleo e gás. "Não tenciono lutar nesta guerra que não foi uma decisão minha para começar".

Aqueles que pretendem partir enfrentaram uma grave falta de voos disponíveis depois de os países ocidentais terem fechado o seu espaço aéreo às companhias aéreas russas. Moscovo também fechou o seu espaço aéreo a grande parte do Ocidente em resposta a esta situação. Poe exemplo, os voos para Erevan (capital da Arménia), Istambul ou Belgrado estão esgotados e um bilhete para o Dubai custa 3.625 euros nesta altura.

Andrei, um realizador de cinema, quase ficou retido no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscovo, quando tentava apanhar um voo para Baku. Revistaram-lhe a bagagem e um funcionário leu todas as suas conversas nos chats. “Pegou no meu telemóvel e passou uma hora a vasculhar tudo. Felizmente, apaguei todas as mensagens em que declarava a minha oposição à guerra no Telegram e no Signal”, testemunha ainda Andrei. 

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já causaram mais de um milhão de refugiados, que fugiram para a Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.

Leia Também: Ambientalistas europeus pedem corte com petróleo e gás russos

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