Marta Shokalo, editora do serviço ucraniano da BBC, residente em Kyiv, revelou que, nesta segunda semana de guerra, já não chora mais. "Todos os dias os ucranianos enfrentam a decisão de ficar ou sair", disse, ao comentar a adaptação das famílias ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
“Começo o dia a ler as notícias da noite que contam novas explosões em toda a Ucrânia”, confessou a jornalista, acrescentando: “Há uns dias atrás, acordei com relatos de grandes ataques com mísseis em Kyiv, perto de onde mora o meu pai. Levei 10 minutos a ganhar coragem para lhe ligar e perguntar se estava bem”.
Marta conseguiu falar com o pai e saber que estava tudo bem, o que a deixou aliviada. Já a mãe está mais preocupada em conseguir comprar comida para o cão e o gato do que para ela. "No outro dia ligou-me só para dizer alegremente que tinha conseguido comprar dois pães!”, contou, relembrando que antes a falta de alimentos não era uma preocupação: “A escassez de alimentos e as prateleiras vazias são a nossa realidade agora”, acrescentou.
Nas redes socias deparou-se com “imagens horríveis de destruição em Kyiv e os tanques russos nas cidades e vilas”. A jornalista relembra como antes eram lugares tranquilos, onde os amigos têm casas de campo. “Costumávamos visitá-los com os nossos filhos, fazíamos churrascos e bebíamos vinho, agora, algumas dessas cidades foram destruídas”, recordou.
Outra das consequências da guerra é a educação das crianças. O filho de Marta tem 10 anos e não vai à escola, “nem online”, admitiu, explicando que “alguns professores ficaram em Kyiv, outros foram embora”. Quanto aos colegas, uns fugiram para o campo ou para outros países, mas mantêm o contacto por zoom, onde fazem jogos onde fingem lutar pela Ucrânia.
Recorde-se que a Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar contra a Ucrânia que, segundo as autoridades de Kyiv, já fez mais de 2.000 mortos entre a população civil.
Os ataques provocaram também a fuga de mais de 1,5 milhões de pessoas para os países vizinhos, de acordo com a ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
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