Habitantes de Sumy dizem que russos "lançam bombas como se fosse um jogo"

Os habitantes da cidade ucraniana de Sumy, próxima da fronteira com a Rússia, continuam a temer pela vida e dizem que os militares russos "não se importam com os civis", salientando que "lançam bombas como se fosse um jogo".

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© DIMITAR DILKOFF/AFP via Getty Images

Lusa
11/03/2022 23:15 ‧ 11/03/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia

Em entrevista hoje à agência Lusa, Olena Levchenko, uma professora de inglês e alemão de 46 anos, afirma que se trata de um "crime de Putin contra a humanidade" e garante não vai abandonar a sua cidade natal.

"Nasci em Sumy, na Ucrânia, e vivi aqui toda a minha vida. [...] Por enquanto, eu e a minha família não vamos sair da nossa cidade natal. O que nos poderia fazer sair? Poderia ser o agravamento da situação, mas não tenho a certeza. A nossa terra natal ajuda-nos e inspira-nos", conta.

Numa conversa por escrito de quase duas horas através do Facebook, devido às dificuldades de comunicação com os civis ucranianos, a docente dos 2.º e 3.º ciclos e do ensino secundário adianta, no entanto, que a situação na cidade está estabilizada pelas autoridades, depois de ter caído uma bomba na segunda-feira.

"Eu tirei algumas fotografias de uma destruição que foi feita pela bomba que caiu junto da minha casa no dia 07 de março às 23:00 (menos duas horas em Lisboa). Ouvi e senti essa explosão. Esse lugar fica a cerca de 500 metros de nós", lembra.

Reiterando que não vai sair de Sumy a qualquer custo, Olena Levchenko, que vive com a mãe de 71 anos, o marido de 49 anos, o filho de 23 anos e a namorada de 20 anos, explica que há muitos idosos que não conseguem ou não querem embora.

"Temos muitos corredores que tentam ajudar todas as pessoas que precisam de sobreviver. Não [vão] para a Rússia. [Vão] para outras cidades ucranianas para depois seguirem para a Polónia, Eslováquia e Hungria. Você confiaria a sua vida a um país que o quer matar? Eles, os russos, vão fazer qualquer ucraniano refém", acusa, sustentando que "é exatamente o que estão a fazer agora em Mariupol e Trostianets".

Observando o êxodo de metade da população da cidade, Olena Levchenko indica que "não há eletricidade e água" em algumas zonas de Sumy.

"Em algumas aldeias em torno Sumy há falhas na eletricidade. Mas lá existem, em todos os lugares, poços de água. As residências particulares são aquecidas a lenha. [As pessoas] podem sobreviver facilmente se os soldados russos não os matarem", esclarece.

Sumy é uma cidade no nordeste da Ucrânia com mais de 250.000 habitantes, mas, desde o início da invasão russa, tem visto a sua população desaparecer através dos corredores humanitários, como a sobrinha de Olena Levchenko que saiu para a Poltava em direção à Polónia.

Questionada sobre a atuação da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos, a cidadã ucraniana assegura que é "uma pessoa comum" e que tem tudo o que precisa "para sobreviver e continuar a viver pacificamente" na Ucrânia.

"Agradeço a eles [UE e Estados Unidos]. Mas o que estão a fazer não é uma ajuda urgente de salvamento. Eles e a NATO deveriam fechar o céu sobre a Ucrânia. Civis já morreram. Crianças foram mortas. O que eles esperam? E as centrais nucleares? Toda a Europa pode estar na iminência de um ataque desses terroristas [russos]", reclama.

No entanto, Olena Levchenko avança que nove casas foram destruídas e 22 pessoas morreram, entre as quais três crianças, na sequência de um bombardeamento.

"Aqui não há nenhuma forma de nos escondermos de uma bomba de 500 quilogramas. As pessoas estavam a dormir pacificamente no momento em que bomba caiu", afirma, lamentando a saúde débil da sua mãe.

"A minha mãe está muito fraca. Encontrámos medicação para ela nas farmácias da cidade e ajuda humanitária chegou. Hoje ajudamos a nossa vizinha e trouxemos insulina para lhe dar", ressalva.

Sobre a possibilidade de o marido e o filho irem combater por causa da lei marcial, Olena Levchenko explica que "eles o vão fazer se defesa territorial precisar".

"[...] Temos mais soldados lá do que é necessário. Mas nós lutamos. Eu e o meu marido como voluntários ajudamos as pessoas na cidade e o meu filho no ciberespaço [Internet]", anota.

Relatando ainda momentos aterrorizantes provocados pelos soldados russos, como pilhagens, furtos e matar deliberadamente animais (porcos e galinhas), a cidadã ucraniana garante os militares do Kremlin "estão com raiva".

"Os russos não se importam com os civis e laçam bombas como se fosse um jogo", lembra, acrescentando que o último bombardeio na cidade ocorreu na quinta-feira.

"Os russos lançaram bombas em acampamentos infantis. Cinco bombas. Felizmente não havia crianças, não é hora para descansar agora", suspirou.

Leia Também: Abrigos de animais na Ucrânia: "Não vamos embora. Ficamos com os animais"

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