"Os tempos são muito sombrios e muito difíceis e todas as pessoas que têm uma opinião cívica, e que querem que essa opinião seja conhecida, devem fazer ouvir a sua voz. É muito importante", disse numa entrevista ao canal de televisão americano ABC.
A jornalista defendeu que "o povo russo é realmente contra a guerra", considerando que esta é "a guerra de Putin, não a guerra popular russa".
A jornalista russa ficou conhecida quando interrompeu o noticiário mais assistido na Rússia, na noite de segunda-feira, no Primeiro Canal, exibindo um cartaz criticando a guerra na Ucrânia em plena emissão "da propaganda e mentiras do Kremlin".
Na entrevista à ABC, explicou que queria fazer uma ação que tivesse "mais impacto e chamasse mais a atenção" do que as manifestações de rua, que são reprimidas pela polícia.
"Eu podia ver o que realmente estava a acontecer na Ucrânia e o que os programas do meu canal estavam a mostrar era muito diferente", disse.
Ao aparecer com um cartaz na mão atrás da apresentadora do jornal, a jornalista de 43 anos queria "mostrar ao resto do mundo que os russos são contra a guerra, expôr a propaganda pelo que é e talvez encorajar as pessoas a denunciar a guerra".
"Eu esperava que a minha ação, de certa forma, pudesse mudar a mentalidade das pessoas", concluiu.
Após ter sido detida, a jornalista foi condenada a uma multa simples e libertada.
No entanto, Marina Ovsiannikova ainda enfrenta processos criminais puníveis com pesadas penas de prisão, sob os termos de uma lei recente que reprime qualquer "informação falsa" sobre o Exército russo.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 902 mortos e 1.459 feridos entre a população civil, incluindo mais de 170 crianças, e provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, entre as quais mais de 3,3 milhões para os países vizinhos, indicam os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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