Transformados em soldados, músicos saúdam apoio do mundo artístico
O líder da banda ucraniana Antytila, Taras Topolya, saudou hoje o esforço do mundo do espetáculo em alertar para a invasão russa da Ucrânia e considerou Putin um "terrorista internacional".
© Lusa
Mundo Ucrânia/Rússia
"Apesar da guerra, o que se está a passar no mundo do espetáculo é incrível" e "nós sentimos [esse apoio] aqui", disse à Agência Lusa Taras Topolya, vestido com uniforme militar e equipado com uma metralhadora, à porta da base de uma unidade de defesa territorial (força de segurança militarizada composta por civis que funciona como suporte do exército) onde presta serviço.
"O amarelo e o azul [cores da bandeira ucraniana] começou a ser uma moda" e "os ucranianos são vistos como gente corajosa", salientou Taras Topolya, acrescentando: "sentimos como as grandes celebridades nos ajudam, pode ser um pequeno laço azul e amarelo, declarações, concertos".
"Qualquer coisa feita pelas celebridades europeias ou americanas é importante", principalmente para os refugiados ucranianos e os deslocados pela guerra. "Está a falar com um combatente, mas temos milhões que não são combatentes e mudaram a sua vida por causa da guerra".
Nos últimos dias, os Antytila voltaram a ter a atenção mundial depois de terem feito um apelo para atuarem, à distância, num concerto de beneficência em Birmingham, Inglaterra, a 29 de março, por Ed Sheeran e que contará com nomes como os Chic, Manic Street Preachers, Camila Cabello ou Snow Patrol.
O objetivo é "fazer uma ponte entre Birmingham e Kiev", numa "ação unida", explicou Taras Topolya. "Não sei se vamos cantar, apenas fizemos uma proposta e agora estamos à espera do que aconteça".
Na entrevista à Lusa, Taras Topolya criticou o Presidente russo, Vladimir Putin, aquele que é, segundo disse, o primeiro responsável da invasão. "Putin é um completo mentiroso, é um terrorista internacional e a Rússia, na forma como existe, hoje é um estado terrorista".
Sobre as acusações de os neonazis controlarem a política ucraniana, Taras Topolya riu-se primeiro e depois deu exemplos, refutando as acusações.
Vestido com um uniforme onde são visíveis símbolos do Batalhão Azov (um grupo paramilitar acusado de ter ligações à extrema-direita, mas idolatrado por muitos ucranianos por ter sido quem retirou aos russos o controlo da cidade de Mariupol, em 2014), o líder dos Antytila deu o exemplo do Presidente ucraniano.
"Que raio é que ele está a falar? O nosso presidente é de origens judaicas. Como é que um presidente de origens judaicas pode ajudar neonazis? É como as abelhas serem contra o mel", argumentou.
"Eu consigo cantar músicas judaicas", disse, começando a entoar uma canção tradicional hebraica. "Todos nós temos raízes judaicas desde Abraão".
Três dos quatro elementos que compõem a banda decidiram fazer parte das brigadas de defesa territorial depois de terem feito ações de promoção daquela instituição junto dos ucranianos.
"Dissemos a todos, pelo vídeo, que é simples e bom, temos de defender o nosso país, por isso venham. Fizemos um primeiro vídeo e estávamos a preparar um segundo vídeo e os russos começaram a guerra", recorda.
"No primeiro dia ajudámos as nossas famílias a saírem de Kiev. Eu dei o nosso carro à minha mulher com o meu filho, peguei na bicicleta e vim para cá", afirmou o cantor, que é licenciado por uma academia de polícia.
"Sei como usar armas, não as automáticas, mas pistolas, e tinha algum treino. O mesmo acontece com outros elementos da banda", explicou, embora tenha admitido que essa formação se tinha perdido.
Quando "chegou a guerra, tudo aquilo que sabíamos acabou", mas "tivemos de aprender", porque "ninguém esperava que a Rússia nos atacasse com uma guerra total, com mísseis e centenas de milhares de soldados".
A resiliência das tropas ucranianas foi algo que não surpreendeu Taras Topolya: "É um grande erro dos governos europeus e dos especialistas terem previsto que nós iríamos falhar".
Primeiro, "era só três dias e eles iriam cair. E depois foram mais sete dias. E depois mais sete dias e assim por diante". Mas, "para quem estava no país, isto era claro: ninguém vai dar a vitória à Rússia. Toda a gente, civis e militares, vão lutar até ao fim".
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