34.º dia. Putin reconhece progresso, Kyiv admite condições para cimeira
O Presidente russo reconheceu hoje "progresso" nas negociações sobre um cessar-fogo na Ucrânia, mas apelando à rendição de Mariupol, enquanto Kiev diz que há condições para uma cimeira entre Vladimir Putin e o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky.
© Getty Images
Mundo Ucrânia
De acordo com a Presidência francesa, após uma conversa telefónica com o Presidente Emmanuel Macron, Vladimir Putin garantiu que não está disposto a desistir dos seus objetivos militares na Ucrânia, em particular em Mariupol, recusando-se a levantar o cerco daquela cidade.
"Para encontrar uma solução para a difícil situação humanitária nesta cidade, os combatentes nacionalistas ucranianos devem parar de resistir e depor as armas", disse o chefe de Estado russo, segundo um comunicado do Kremlin sobre o diálogo com o Presidente francês, Emmanuel Macron, onde falaram das negociações de hoje em Istambul.
O negociador-chefe ucraniano admitiu, entretanto, que estão reunidas condições para um primeiro encontro entre Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin, acrescentando que Kiev aceitará a condição de a Ucrânia se tornar um país neutral.
"Os resultados da reunião de hoje (em Istambul) são suficientes para uma reunião a nível de chefes de Estado", disse David Arakhamia, negociador-chefe da delegação da Ucrânia, admitindo que Moscovo aceitará esse encontro, pela primeira vez desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Desta ronda de negociações, em Istambul, também saiu a conclusão de que a Ucrânia concordará em ser um país neutro, se houver um "acordo internacional" para garantir a sua segurança, do qual vários países, que atuariam como fiadores, seriam signatários, de acordo com Arakhamia.
"Insistimos que este é um acordo internacional que será assinado por todos aqueles países que sirvam de garantia de segurança", explicou o negociador chefe ucraniano, durante uma conferência de imprensa.
As negociações entre a Rússia e a Ucrânia em Istambul foram "substanciais" e Kiev apresentou propostas "claras", reconheceu o chefe da delegação russa e conselheiro presidencial, Vladimir Medinsky.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Çavusoglu, saudou os "progressos mais significativos" desde o início da guerra na Ucrânia nas negociações entre Kiev e Moscovo em Istambul, indicando que estas terminaram.
"Trata-se dos progressos mais significativos desde o início das negociações", declarou o ministro, no final de três horas de diálogo entre as delegações russa e ucraniana.
Apesar deste ambiente de algum desanuviamento diplomático, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, avisou que a Rússia responderá se os membros da NATO fornecerem aviões de combate e sistemas de defesa aérea à Ucrânia para a ajudar a combater as tropas russas.
"Estamos a acompanhar as declarações dos líderes de cada país da NATO sobre a sua intenção de fornecer aviões e sistemas de defesa aérea à Ucrânia", disse o ministro.
Os líderes britânico, norte-americano, francês, alemão e italiano alertaram hoje contra qualquer "relaxamento da determinação ocidental" perante a invasão russa da Ucrânia, revelou Downing Street após uma conversa telefónica entre os governantes.
Boris Johnson, Joe Biden, Emmanuel Macron, Olaf Scholz e Mario Draghi "concordaram que não pode haver um relaxamento da determinação ocidental até que o horror infligido à Ucrânia termine", salientou o gabinete do primeiro-ministro do Reino Unido.
"O primeiro-ministro [britânico] salientou que devemos julgar o regime de Putin pelas suas ações e não pelas suas palavras", vincou fonte de Downing Street na reação às palavras de Moscovo sobre uma redução das ações militares no oeste ucraniano, em particular nas proximidades de Kiev.
Por sua vez, os EUA anunciaram que estão empenhados em continuar a adotar medidas contra a Rússia, dirigidas a setores-chave da indústria, para garantir que o financiamento à "máquina de guerra" na Ucrânia é travado.
"Trabalhando em estreita colaboração com os nossos aliados, incluindo a União Europeia, estamos comprometidos em continuar a tomar mais medidas para garantir que o Kremlin tenha menos recursos para continuar a sua guerra não provocada na Ucrânia", disse o subsecretário do Tesouro norte-americano, Wally Adeyemo, em Bruxelas em conferência de imprensa ao lado da comissária europeia de Serviços Financeiros, Mairead McGuinness.
A União Europeia (UE) e a China concordam na urgência do regresso da paz ao continente europeu, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, anunciou hoje o chefe da diplomacia dos 27, Josep Borrell, em comunicado.
Ao mesmo tempo, o chefe da diplomacia europeia considerou que a União Europeia (UE) devia ter-se tornado independente da energia russa, como gás, na guerra da Crimeia, há oito anos, e que isso tem de "acontecer já" por afetar a sua segurança.
"Temos ainda uma grande dependência energética da Rússia e deveríamos ter deixado de depender [dos combustíveis fósseis russos, como o gás] em 2014, com a guerra da Crimeia", defendeu Josep Borrell, falando num debate promovido pelo grupo de reflexão Conselho Europeu de Relações Externas (European Council on Foreign Relations -- ECFR), em Bruxelas.
Pressionado por acusações, o Kremlin negou que o seu exército esteja a remover à força civis desde Mariupol para a Rússia, após denúncias de Kiev que acusam as tropas russas de transferir milhares de ucranianos para o seu país.
"Garanto que isso é mentira. Isso não corresponde à realidade", disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, numa conferência de imprensa, sublinhando que "a Rússia não se envolve em tais coisas".
Na frente de batalha, a sede da administração regional de Mykolaiv, cidade perto de Odessa que havia sido poupada dos bombardeamentos nos últimos dias, foi atingida hoje por um ataque russo, disse o governador desta região localizada no sul da Ucrânia.
"O edifício da administração regional foi atingido", escreveu o governador Vitaly Kim numa mensagem publicada na rede social Facebook, assegurando que a maioria das pessoas que estavam dentro do prédio saiu ilesa do ataque.
"A partir das 13:30 horas (11:30 em Lisboa), os corpos de sete mortos e 22 feridos foram libertados do local da destruição", disse o Serviço de Emergência Estatal (SES) ucraniano, acrescentando que tinha conseguido resgatar 18 pessoas dos escombros.
A invasão russa da Ucrânia já provocou pelo menos 1.179 mortos e 1.860 feridos entre a população civil, a maioria dos quais vítimas de armamento explosivo de grande impacto, indicou hoje a ONU.
No seu relatório diário de vítimas civis confirmadas desde o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, a 24 de fevereiro, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabilizou, até às 24:00 de segunda-feira (hora local), 104 crianças entre os mortos e 134 entre os feridos.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) já contabilizou 3.901.713 refugiados ucranianos e este número poderá ultrapassar os quatro milhões nos próximos dias, segundo os dados disponibilizados hoje no portal oficial na internet do organismo.
De acordo com o ACNUR, são mais 38.916 ucranianos que saíram do seu país em relação aos números divulgados na segunda-feira.
Leia Também: AO MINUTO: Putin quer Mariupol; Russos a "manobrar, não a recuar"
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com