Com um mês de guerra, Kyiv volta ao trabalho para "ganhar a vida"
Mais de um mês depois da invasão da Ucrânia, a capital, Kyiv, acordou hoje com mais carros a circular, mais lojas abertas e mais pessoas nas ruas, mesmo com a chuva ligeira que se fez sentir.
© Lusa
Mundo Ucrânia
Apesar dos barulhos distantes de bombardeamentos -- as tropas ainda se enfrentam no norte na cidade, com os ucranianos a tentarem consolidar a reconquista de algumas cidades dos subúrbios, como Irpin -- e dos 'checkpoints' constantes, a cidade parecia acolher com algum alívio o anúncio de um primeiro acordo nas negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia.
"Há duas semanas era só eu a trabalhar na loja, há uma semana tinha duas funcionárias, hoje veio mais uma. As pessoas precisam de viver, o dinheiro não chega", diz um proprietário de uma farmácia, no centro da cidade.
As autoridades estimam que tenham fugido da cidade metade dos quatro milhões que aqui viviam, mas hoje os parques de estacionamento apresentam mais carros, alguns deles com papéis afixados em russo onde se pode ler "crianças" e tecidos brancos atados aos retrovisores, imagem típica dos deslocados de guerra.
Junto aos supermercados, a animação é visivelmente maior, com gente com carros de compra, apesar de alguns bens ainda escassearem.
Os preços subiram para pagar os novos custos da logística e nos postos de combustível os condutores já estão habituados a perceber quais os que têm diesel ou gasolina. Se tiver preço indicado nos mostradores, é sinal de que o posto tem esse combustível.
A circulação também parece ser mais fácil, com algum relaxamento do controlo dos documentos e a reabertura de uma das pontes que atravessam o Dniepre.
À porta de um mercado, Andrii, 37 anos, vende um porco desmanchado. "Fui eu que o matei e vim cá vender porque precisamos de dinheiro", diz à Lusa.
Mora numa vila a 100 quilómetros de Kyiv e colocou o animal numa banca de venda improvisada atrás do pequeno carro, com a mala aberta. "Temos de ganhar a vida, temos de nos aguentar por causa da guerra", desabafa o mecânico, com medo que a venda seja noticiada na imprensa ucraniana. "É que isto não é bem legal", diz, acompanhado da filha.
Quanto ao preço, Andrii, mecânico de profissão e agora sem carros para reparar, não disse quanto custava cada peça exposta. "Mas é mais barato que ali na loja", rematou.
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