Sarajevo evoca 30 anos do início da guerra com o pensamento na Ucrânia

As imagens da guerra na Ucrânia estão a fazer reviver a muitos habitantes de Sarajevo o prolongado cerco à cidade no início da guerra civil na Bósnia-Herzegovina, iniciado há precisamente 30 anos.

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Lusa
06/04/2022 07:36 ‧ 06/04/2022 por Lusa

Mundo

Sarajevo

 

No decurso do conflito interétnico nesta ex-república jugoslava (1992-1995), Sarajevo esteve praticamente cercada durante quase quatro anos pelo exército dos sérvios bósnios, que ocupavam parte da cidade e bombardeavam as posições bosníacas (muçulmanas) a partir das montanhas que rodeiam a capital bósnia.

Em 06 de abril de 1992, as forças sérvias bósnias, unidades do exército jugoslavo controlado pela Sérvia e paramilitares iniciaram o assédio à cidade que se prolongaria durante 44 meses, até 29 de fevereiro de 1996.

Cerca de 350.000 habitantes ficaram encurralados, confrontados com combates, atiradores furtivos e bombardeamentos quase diários, muitos privados de eletricidade, água e outros bens essenciais.

Para os atuais habitantes, é particularmente dolorosa a evocação do 30º aniversário do início do cerco por estabelecerem uma comparação com o sofrimento agora infligido à população civil ucraniana na sequência da invasão militar da Rússia.

"O mundo habituou-se a ver-nos sofrer e agora vemos [os ucranianos] a sofrer e não podemos fazer nada para os ajudar", explicou Arijana Djidelijam, uma professora primária de 52 anos, em declarações à agência noticiosa Associated Press (AP).

"É um sentimento muito estranho e difícil", acrescentou.

Durante esta semana numerosas exposições, instalações de artistas, concertos ou atuações recordam diversos aspetos do quotidiano da cidade durante o cerco e a resposta da população.

Mais de 11.000 pessoas, incluindo cerca de 1.000 crianças, foram mortas durante o bloqueio, que se juntam aos cerca de 100.000 mortos durante a guerra nesta ex-república jugoslava, que também provocou 2,2 milhões de refugiados entre as três principais etnias (bosníacos, sérvios e croatas), metade da população total.

"Poderia ter saído, mas nunca lamentei a decisão de permanecer em Sarajevo e contribuir para a sua sobrevivência", disse Dragan Stevanovic, um médico reformado, que durante os anos de guerra observou centenas de civis e militares feridos ou doentes num dos dois maiores hospitais da cidade.

"Não tínhamos eletricidade nem a maioria das coisas que um hospital necessita para funcionar. Não havia luz, aquecimento, não podíamos esterilizar os instrumentos médicos, os elevadores não funcionavam, não tínhamos nada", recordou, citado pela AP.

Apesar de antecedido por outros incidentes armados, o ataque a Sarajevo é considerado o início da guerra na Bósnia-Herzegovina.

Em março de 1992, bosníacos e croatas locais tinham votado em referendo a independência da Bósnia-Herzegovina e a sua rutura com a Jugoslávia, na sequência das secessões da Eslovénia e da Croácia em junho de 1991.

O diretor do Teatro nacional de Sarajevo, Dino Mustafic, recordou à agência noticiosa EFE a importância para a cidade cercada da vida artística, que se manteve apesar das difíceis condições, e os atos de solidariedade internacional.

No atual cenário, também sublinhou que, em qualquer parte do mundo onde a população civil esteja indefesa, é necessário rejeitar os "cálculos políticos" e promover os "melhores reflexos morais" para adotar decisões corretas e ajudar.

"A solidariedade de outros artistas do estrangeiro era para nós, naqueles momentos, uma esperança e que, a par da resistência física dos combatentes, permitiu defender a nossa fé numa Sarajevo cosmopolita, europeia e aberta", destacou.

No entanto, após o fim da guerra com a assinatura do Acordo de Dayton em finais de 1995, a Bósnia-Herzegovina foi dividida em duas entidades - a Republika Srpska (RS, sévios) e a Federação da Bósnia-Herzegovina (croato-bosníaca) - e os três "povos constituintes" separados por linhas étnicas.

E mesmo Sarajevo, após a expulsão da população sérvia, perdeu muito do caráter multiétnico e "jugoslavo", uma das suas características até ao início da guerra civil.

Na sequência do atual conflito na Ucrânia, a RS não se juntou às condenações da invasão russa, impedindo que o frágil país dos Balcãs adote sanções contra Moscovo.

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, já manifestou preocupação por uma eventual tentativa da Rússia de desestabilizar a Bósnia no âmbito da sua atual confrontação com o ocidente.

Leia Também: Bombardeamento russo atinge fábrica em Dnipropetrovsk

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