"Sanções estão sempre sobre a mesa. Discutir a Ucrânia significa certamente discutir a eficácia das nossas sanções, as que já foram decididas, e certamente os ministros vão falar sobre passos adicionais", afirmou o chefe da diplomacia dos 27, à entrada para uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, no Luxemburgo.
Borrell indicou que dará conta aos 27 da sua recente deslocação a Kiev, juntamente com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
"Nós testemunhámos o que se passa lá e a agressão brutal das tropas russas contra a população civil. Voltámos muito impressionados após o que vimos. Podem ir a Kiev. Abrimos a nossa delegação lá", disse.
O Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança indicou que os 27 irão discutir como "apoiar melhor o povo ucraniano e também como apoiar o Tribunal Penal Internacional" nas suas investigações aos alegados crimes de guerra cometidos pelas forças russas na Ucrânia.
Relativamente ao conflito no terreno, o chefe da diplomacia europeia disse recear "que as tropas russas estejam a concentrar-se em massa no leste, para lançar um ataque na região do Donbass".
"A Ucrânia está muito consciente disso. Receio que nos próximos dias a guerra se agrave no Donbass", disse Borrell.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia discutem hoje no Luxemburgo um sexto pacote de sanções à Rússia, face à sua agressão militar contra a Ucrânia, mas possíveis embargos às importações de petróleo e gás dividem os 27.
A reunião de hoje tem lugar apenas três dias após a adoção formal, pelo Conselho, do quinto pacote de sanções da UE dirigido a Moscovo, na sequência das atrocidades cometidas pelas forças russas em Bucha e outras localidades ucranianas entretanto libertadas, e que visou pela primeira vez o sensível setor energético, com um embargo às importações de carvão, a partir de agosto próximo.
No entanto, são sobretudo as receitas das exportações de gás e petróleo da Rússia para a UE que mais ajudam Moscovo a financiar a sua máquina de guerra russa -- como o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem apontado incessantemente -, razão pela qual a Comissão Europeia já começou a trabalhar nesta área, sendo todavia muito difícil um entendimento entre os 27, dada a forte dependência energética de alguns Estados-membros, designadamente ao nível do gás.
O ministro João Gomes Cravinho, que participou entre quarta e quinta-feira numa reunião de chefes de diplomacia em Bruxelas, mas ao nível da NATO, já disse na ocasião que Portugal apoiaria um embargo total da UE às importações de todas as matérias-primas energéticas da Rússia, incluindo gás e petróleo, para "ajudar a paralisar a economia que sustenta a máquina de guerra russa".
"A dependência energética por parte de alguns países europeus vai ter de ser completamente repensada. Do lado português, nós naturalmente que apoiaríamos qualquer medida coletiva nesse sentido", disse o ministro, admitindo que, ao contrário de Portugal, "há outros países europeus para os quais é mais difícil" prescindirem do petróleo e gás russo, observando que "para esses países o fundamental é conseguirem encontrar outras soluções para diminuírem a sua dependência em relação à Rússia".
Durante a sua visita a Kiev, na passada sexta-feira, Borrell deu conta da sua intenção de lançar hoje uma discussão sobre um embargo ao petróleo russo -- atendendo a que a proibição de importações de gás parece neste momento inviável, dada a forte dependência de países como Alemanha e Áustria -, mas muito dificilmente será alcançado hoje um compromisso, numa questão que exige unanimidade, como é a de sanções europeias.
Os 27 deverão dar hoje 'luz verde' a mais um pacote financeiro, o terceiro, de 500 milhões de euros para a aquisição e fornecimento de material de guerra à Ucrânia, numa altura em que se avizinham importantes batalhas na região do Donbass, dado ser expectável uma forte ofensiva russa nesta zona leste do território ucraniano.
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