"A UE apoia o apelo da Ucrânia ao Kremlin para que permita a retirada segura dos civis de Mariupol", declarou Borrell num comunicado.
O chefe da diplomacia comunitária afirmou que devem ser "imediatamente" criados corredores humanitários, "com as necessárias garantias de cessar-fogo", a partir do complexo industrial siderúrgico de Azovstal e outras zonas da cidade até outros pontos da Ucrânia.
"Apesar da carnificina infligida pela Rússia, mais de 100.000 civis permanecem em Mariupol, incluindo até mil que podem ter-se refugiado no complexo industrial de Azovstal, defendido pelas Forças Armadas da Ucrânia", disse Borrell.
O responsável europeu insistiu também que se deve garantir o acesso "livre e seguro" a quem presta ajuda humanitária, de acordo com o direito internacional humanitário.
"Desde há semanas, o mundo é testemunha de um cruel ataque ilegal a Mariupol por parte da Rússia que levou à destruição em grande escala da cidade e incluiu atrocidades contra os civis, sob o retorcido pretexto de 'libertar' a cidade", sublinhou.
Salientou igualmente que milhares dos seus habitantes foram deportados para a Rússia ou deslocados à força para zonas não controladas pelo Governo ucraniano.
"Elogiamos a Ucrânia pelos seus esforços para encontrar uma solução diplomática para a retirada dos civis e lamentamos que a Rússia não esteja a corresponder", concluiu.
Com quase meio milhão de habitantes, Mariupol é o principal porto do mar de Azov e é essencial nas tentativas russas de ligar as autoproclamadas repúblicas pró-russas de Donetsk e Lugansk à península da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse na quinta-feira que cancelava a ordem para invadir o complexo siderúrgico de Azovstal com o argumento de salvar vidas, mas mantendo o cerco à zona industrial da cidade.
O líder do Kremlin sustentou que não havia "necessidade de entrar nessas catacumbas e rastejar pelos subterrâneos dessas instalações industriais", mas exigiu o encerramento da zona industrial "para que não passe nem uma mosca, nem para dentro nem para fora".
A Ucrânia disse que a Rússia é "fisicamente incapaz" de tomar o complexo siderúrgico, e o mais recente relatório dos serviços secretos britânicos considera que a decisão de Putin pretende libertar forças russas para que sejam enviadas para outros pontos do leste da Ucrânia, além de evitar "baixas russas significativas".
A Rússia quer controlar o sul da Ucrânia, além do leste, não só para estabelecer um corredor terrestre a partir do Donbass até à Crimeia, mas também para criar um ponto de acesso à região separatista moldava da Transnístria, como hoje reconheceu o chefe do Distrito Militar Central russo.
Moscovo lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5,1 milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que a classificou como a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 58.º dia, já matou mais de 2.000 civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito mais elevado.
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