Ambientalistas pedem área protegida para reprodução da baleia-de-bossa

Os ambientalistas da cabo-verdiana Bios.CV defendem a criação de uma área protegida na baía de Sal Rei, ilha da Boa Vista, para salvaguardar a população de baleia-de-bossa que se reproduz naquelas águas.

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Lusa
25/04/2022 09:00 ‧ 25/04/2022 por Lusa

Mundo

Cabo Verde

"Com uma área protegida já se pode implementar medidas de regulamentação e controlo. A ideia é continuar com o turismo de observação de baleias, mas de uma forma mais controlada, assim como o tráfego marítimo ou a pesca. Mas o primeiro passo é conseguir que seja declarada como área protegida", afirmou, em entrevista à Lusa, o biólogo espanhol Pedro López, radicado na Boa Vista e um dos fundadores de associação ambientalista cabo-verdiana Bios.CV.

A presença das baleias-de-bossa (megaptera novaeangliae) na Boa Vista faz-se sentir anualmente entre fevereiro e junho, período de reprodução, viajando estas mais de 4.000 quilómetros, do norte do Atlântico para as águas daquela ilha cabo-verdiana, onde a sua presença atrai anualmente milhares de turistas, em excursões marítimas em que é possível ver adultos e crias.

"Antigamente Cabo Verde era um local de caça de baleias. Os barcos do norte da América vinham para cá e contratavam pessoal local, marinheiros que depois criaram a colónia cabo-verdiana nos Estados Unidos", recorda o biólogo.

Com uma população para reprodução em Cabo Verde -- único local conhecido para a sua reprodução no Atlântico Norte Oriental - estimada em 300 a 400 indivíduos, Pedro López admite que a espécie, ali, está ameaçada.

"Esta população está considerada em perigo de extinção, é muito pequena. A espécie não, a nível mundial não está ameaçada", explicou ainda.

Segundo a Bios.CV, na atual temporada, já foram avistadas 20 crias de baleia-de-bossa nas águas da Boa Vista. O destaque vai também para a "Easy", fêmea que voltou este ano àquelas águas. Foi ali avistada pela primeira vez em 2010 e já voltou à Boa Vista com crias em 2014, 2019 e em 2022.

A "mais carismática" destas baleias em Cabo Verde será o macho "Notch", que visita aquelas águas todos os anos, somando perto de 80 avistamentos entre 2010 e 2022.

"É um grande cantor e uma baleia muito acrobática, tendo sido também fotografada nas Açores e na Noruega", explicou o ambientalista.

Estas baleias, adultas, têm entre 12 e 16 metros de comprimento e 25 e 40 toneladas de peso, e as crias nascem já com uma tonelada e quatro a cinco metros.

"São filhotes bastante grandes", brincou Pedro López.

Após a reprodução nas águas ao redor da baía de Sal Rei, estas baleias regressam depois de junho às águas da Noruega, Islândia e ilhas Britânicas: "As fêmeas fazem esta migração a cada três anos, mas os machos podem fazer todos os anos".

Para o biólogo da Bios.CV, seria fundamental criar uma reserva nestas águas e garante que há contactos entre os vários grupos de conservação cabo-verdianos para criar uma "rede de áreas marinhas protegidas" em Cabo Verde, incluindo a da Boa Vista.

"Estamos a tentar propor a baía de Sal Rei como uma futura área protegida para as baleias. Baleias, tubarões e outras espécies. (...) É algo que temos de discutir. É uma baía que tem muitos usos, pesca, turismo, tráfego marítimo. Então, definir a dimensão da baía [a proteger] tem de ser debatido", admitiu.

A baía de Sal Rei e as águas ao redor da costa ocidental da Boa Vista servem de reprodução e alimentação das crias da baleia-de-bossa, antes do regresso para norte.

"É uma baleia muito acrobática. É comum ver machos, fêmeas e as crias a saltar. É espetacular de observar", explicou Pedro López.

Daí que sejam habituais as excursões de turistas em embarcações de recreio para ver de perto estas baleias, que são aproveitadas pelos biólogos da Bios.CV para recolha de dados.

"Aproveitamos as excursões às baleias para fazermos pesquisa. Tentamos colocar um biólogo a bordo de cada embarcação para fazer de educador, para informar os turistas sobre as baleias e para realizar a coleta de dados e fotografias, que vão servir para o trabalho de pesquisa", sublinhou o responsável da Bios.CV, cuja equipa conta com o apoio de biólogos de Cabo Verde, Irlanda, Suíça e Portugal, entre outros.

Num "dia bom", de forte agitação marítima, podem ser observadas três a quatro fêmeas com crias naquelas águas e o trabalho destes biólogos consiste na "foto identificação" das baleias e sempre que possível na recolha de amostras de pele, além da acústica.

"É uma espécie em que os machos cantam. Então, quando há condições, quando o mar está calmo e não há muitos barcos perto, colocamos um hidrofone na água para gravar esse canto", explicou ainda Pedro López.

Todos os dados recolhidos da presença da baleia-de-bossa na Boa Vista são depois partilhados com outros grupos de conservação ambiental do Atlântico norte.

A Bios.CV já identificou 24 espécies de cetáceos nas águas de Cabo Verde.

Leia Também: Pandemia provocou atraso nos esforços de proteção dos oceanos

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