"Se alguém, insisto, se estiver a preparar para interferir nos acontecimentos em marcha e criar ameaças estratégicas inadmissíveis para a Rússia, deve saber que os nossos ataques de resposta serão relâmpago, rápidos", assegurou Putin durante uma intervenção perante o Conselho de Deputados, em São Petersburgo.
"Dispomos de todos os meios para tal", acrescentou, referindo-se ao novo míssil hipersónico, já testado, com capacidade para atingir território da Europa ocidental e dos Estados Unidos.
Trata-se, segundo Putin, de um tipo de armamento que "neste momento, ninguém se pode gabar" de ter.
"E nós não nos vamos gabar. Usá-lo-emos se for necessário. E quero que todos o saibam", sublinhou.
"Todas as decisões sobre isso já foram tomadas", acrescentou.
O líder do Kremlin voltou a acusar o Ocidente de transformar a Ucrânia numa "anti-Rússia" e de pressionar Kiev a combater com o seu vizinho do norte; de atacar a anexada península da Crimeia e a região do Donbass; de possuir armas nucleares e ter em funcionamento laboratórios para produção de armas químicas e biológicas.
"Por isso, a nossa reação perante esses cínicos planos foi correta e oportuna", defendeu, referindo-se à "operação militar especial" iniciada pelas tropas russas há dois meses na Ucrânia.
Putin garantiu ainda que todos os objetivos definidos na campanha militar em curso serão cumpridos, o que inclui a segurança dos russos e dos habitantes das repúblicas de Donetsk e Lugansk, no leste do território ucraniano, cuja independência foi reconhecida por Moscovo.
Os soldados russos "impediram o perigo real que pairava sobre a nossa pátria (...), evitaram um conflito de grande magnitude que teria decorrido no nosso território, já seguindo um guião estrangeiro", explicou.
Também esta semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, alertou de que o perigo de uma guerra nuclear "é grave, é real, não deve ser subestimado".
Recentemente, a Rússia realizou um teste de lançamento de um míssil balístico intercontinental Sarmat que, segundo Putin, "é capaz de superar todos os meios modernos de defesa antimísseis" e "não tem par em todo o mundo".
A ofensiva militar russa iniciada na madrugada de 24 de fevereiro na Ucrânia -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar o país vizinho para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
O porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano, John Kirby, reagiu ao anúncio do lançamento do Sarmat, a 20 de abril, afirmando tratar-se de um teste de "rotina", que não constitui "uma ameaça" para os Estados Unidos ou para os seus aliados.
Cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia e a guerra, que entrou hoje no 63.º dia, causou até agora a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5,3 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que a classifica como a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A ONU confirmou hoje que pelo menos 2.787 civis morreram e 3.152 ficaram feridos, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.
Leia Também: "Putin invoca com Guterres o argumento do PCP: tudo começou em 2014"