À chegada a Kyiv, depois de na terça-feira se ter reunido em Moscovo com o Presidente russo, Guterres mostrou-se empenhado em garantir as condições para que a ONU, em cooperação com as autoridades russas e ucranianas, possa estabelecer um corredor humanitário que permita a saída de centenas de civis que se encontram numa fábrica siderúrgica em Mariupol.
"Imaginem centenas de mulheres e crianças, em corredores escuros e sem acesso a nada e no meio de uma guerra. É prioritário conseguir fazer com que possam sair dessas condições", disse Guterres, numa conferência de imprensa improvisada para os jornalistas portugueses presentes em Kyiv.
Guterres reconheceu que a tarefa será difícil, já que "se trata de pessoas que estão retidas num espaço sitiado" pelas tropas russas, obrigando por isso a uma "logística complexa", já que será necessário garantir que o corredor humanitário não será utilizado "por outros atores".
O secretário-geral da ONU reiterou que a sua organização continua empenhada em conseguir encontrar uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia, repetindo que, para as Nações Unidas, "não há qualquer dúvida que se trata de uma invasão injustificada".
Sobre o 'timing' da sua visita a Moscovo e a Kyiv, que tem sido criticada por vários analistas, Guterres esclareceu que, na sua perspetiva, esta foi "a melhor ocasião" para conversar com os presidentes russo, Vladimir Putin, com quem conversou na terça-feira, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, com quem se encontrará na quinta-feira.
Guterres explicou ainda que não está "excessivamente preocupado" pelo facto de a ONU não ter sido envolvida nas negociações políticas, atribuindo esse fator à indisponibilidade da Rússia em aceitar essa intermediação.
O secretário-geral das Nações Unidas recordou que a sua organização está a acompanhar de perto as tentativas de negociação de paz, aludindo a uma recente reunião com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que tem tido um papel muito ativo na mediação do conflito.
"Além do mais, lembro que as Nações Unidas têm cerca de 1.400 funcionários em Kyiv, a trabalhar para fazer chegar ajuda humanitária a milhões de ucranianos", disse Guterres, em declarações aos jornalistas portugueses.
Na sua passagem pela Ucrânia, na quinta-feira, o secretário-geral da ONU deverá ainda visitar algumas aldeias que foram particularmente visadas pelos ataques das tropas russas, para além de se encontrar com Volodymyr Zelensky.
A ONU atribuiu o facto de Guterres ter visitado Moscovo primeiramente a "uma questão logística", apesar de a ordem das visitas não ter sido do agrado do Presidente ucraniano, com quem Guterres se encontrará na quinta-feira.
"A ordem das visitas foi uma questão de logística. As cartas foram enviadas aos dois Governos a partir de Nova Iorque. A Rússia respondeu primeiro e quando a resposta da Ucrânia chegou, agendamos esta visita", explicou Saviano Andreu, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês).
Guterres entrou na Ucrânia na manhã de hoje através da fronteira com a Polónia e continuou a sua viagem para a capital ucraniana, Kyiv, de carro, escoltado por seguranças da ONU e militares ucranianos.
Na sua viagem de centenas de quilómetros de automóvel para Kyiv, o principal líder da ONU fez duas paragens pelo caminho.
António Guterres não só se encontrará com o Presidente Zelensky e com o seu ministro dos Negócios Estrangeiros Dmytro Kuleba, como também se reunirá com funcionários das agências da ONU para discutir "como otimizar a assistência humanitária ao povo da Ucrânia", embora, por enquanto, não tenha revelado qual o local em que visitará as equipas no terreno.
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