"Durante meses, as forças de segurança abusaram e detiveram ilegalmente centenas de pessoas, incluindo crianças, que expressam a sua oposição ao regime militar", disse o investigador sudanês da HRW, Mohamed Osman, numa declaração.
A organização não-governamental (ONG) afirmou que as forças de segurança "espancaram e trataram mal os manifestantes detidos, incluindo desnudar crianças detidas e ameaçar as mulheres com violência sexual".
As alegações da HRW baseiam-se em entrevistas com 25 pessoas (oito homens e 17 mulheres) entre fevereiro e abril de 2022, incluindo oito ex-detidos e familiares de 13 detidos de Cartum, Madani (centro), Port Sudan (leste) e Al Fashir em Darfur (oeste).
"O ataque implacável e brutal aos manifestantes é uma tentativa de incutir medo e tem escapado largamente ao escrutínio internacional", disse Osman.
No início de março, o Gabinete Conjunto das Nações Unidas para os Direitos Humanos no Sudão informou que mais de 1.000 pessoas foram presas entre 25 de outubro e 03 de março, incluindo 148 crianças.
"As forças de segurança também maltrataram crianças, incluindo alegadamente despindo-as nuas e rapando-lhes parcialmente a cabeça. As famílias entrevistadas disseram que tinham sido intimidadas a apresentar possíveis queixas contra as forças de segurança", disse a ONG.
A mãe de um rapaz de 16 anos em Madani disse ter encontrado o seu filho numa esquadra da polícia depois de ele ter assistido a um protesto, em 13 de dezembro: "Vi o meu filho a sangrar e ser brutalmente espancado. Estava sem camisa. Quando pedi que o meu filho fosse examinado clinicamente, a polícia disse-me: 'Vamos libertar o seu filho sem acusação, mas não nos vai processar'", de acordo com o testemunho recolhido pela HRW.
Em 25 de outubro, o chefe militar do Sudão, o tenente-general Abdel-fattah al-Burhan, liderou um golpe militar contra o Governo de transição do Sudão e declarou o estado de emergência.
A 26 de dezembro, emitiu uma ordem de emergência concedendo imunidade às forças de segurança e devolveu poderes de prisão ao Serviço Geral de Informações, que tem um historial de abusos graves, disse a HRW.
Desde que Al-Burhan restabeleceu os poderes de detenção da agência, as detenções arbitrárias de manifestantes dispararam, e as autoridades estão a abusar dos seus poderes de emergência para efetuar detenções ilegais, incluindo detenções incomunicáveis, disse a ONG.
"As autoridades sudanesas devem libertar todos os detidos ilegalmente, incluindo os que desapareceram à força, enquanto os parceiros internacionais do Sudão devem impor sanções individuais específicas aos responsáveis pela repressão", concluiu a HRW.
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