O Comité de Médicos do Sudão disse que 23 idosos e 144 homens também foram mortos. Na terça-feira, o governador provincial da província ocidental de Darfur, Khamis Abdalla Abkar, disse que o número de mortos tinha ultrapassado os 200.
O comité, uma associação médica independente, disse que o número real de mortos pode ser mais elevado, uma vez que a contagem não inclui as baixas que não foram sujeitas a autópsia ou que nem sequer foram relatadas.
Os combates, alguns dos mais mortais da região nos últimos anos, resultaram da morte de dois pastores árabes na passada quinta-feira, nos arredores de Kreinik, 80 quilómetros (cerca de 50 milhas) a leste de Genena, a capital provincial de Darfur Ocidental.
Um grande número de milícias árabes, conhecidas como janjaweed, invadiram então a cidade em retaliação no início do domingo com armas pesadas. A violência acabou por chegar a Genena e o hospital principal foi atacado e depois encerrado.
Entretanto, vários hospitais privados mais pequenos abriram as suas portas para receber alguns dos mais de 220 feridos, de acordo com o grupo de médicos. "Contudo, estes hospitais não conseguiram preencher a lacuna criada pelo encerramento do hospital de Genena", afirmou.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) disse hoje que dois trabalhadores da saúde, um em Kreinik e outro em Genena, estavam entre os que foram mortos. Numa declaração, a agência de saúde da ONU condenou os ataques às instalações de saúde e apelou à cessação imediata da violência.
"Os profissionais de saúde que prestam cuidados de saúde a civis feridos já estão sobrecarregados e não devem estar em risco de intimidação ou ataque", disse Ahmed Al-Mandhari, chefe regional da OMS.
A agência acrescentou que os confrontos tinham forçado milhares de civis recentemente deslocados em Kreinik a procurar refúgio no interior do complexo militar da cidade.
Os combates chegaram num momento crítico para o Sudão, que mergulhou no caos desde um golpe militar no ano passado. A tomada do poder acabou com a transição do país para a democracia, após uma revolta popular que forçou a saída de Omar al-Bashir, em abril de 2019.
Os militares sudaneses disseram no início desta semana que tinham destacado uma brigada para a província para se juntar a uma força de proteção civil já estacionada em Kreinik.
No entanto, os confrontos levantam questões sobre se os líderes militares são capazes de trazer segurança a Darfur, que tem sido destruída por anos de guerra civil. Em 2020, o Conselho de Segurança da ONU terminou a sua missão de manutenção da paz no país.
O conflito no Darfur começou em 2003 quando os africanos étnicos se rebelaram, acusando de discriminação o governo dominado pelos árabes na capital, Cartum. O Governo de Al-Bashir foi acusado de retaliação, armando as tribos árabes nómadas locais e libertando os janjaweed sobre os civis - uma acusação que nega.
Al-Bashir, que está preso em Cartum desde que foi deposto do poder, em 2019, foi acusado há mais de uma década pelo Tribunal Penal Internacional de genocídio e crimes contra a humanidade perpetrados em Darfur.
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