Ao mesmo tempo que condenou o uso de armas nucleares na Ucrânia, Lukashenko não revelou se o Presidente russo, Vladimir Putin, tem planos para lançar um ataque desse tipo.
Em entrevista à agência Associated Press (AP), Lukashenko indicou que Moscovo, que lançou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro -- parcialmente através de território bielorrusso -, teve de agir porque Kiev estava a "provocar a Rússia".
"Mas não estou suficientemente imerso neste problema para dizer se vai de acordo com o plano, como dizem os russos, ou como eu o sinto. Quero sublinhar mais uma vez: sinto que esta operação se arrastou", afirmou na entrevista de quase 90 minutos realizada no Palácio da Independência, em Minsk.
O apoio de Lukashenko à guerra tem suscitado críticas e sanções internacionais contra Minsk.
Algumas tropas russas foram enviadas para solo ucraniano a partir de território bielorrusso e Lukashenko apoiou publicamente o seu aliado russo de longa data, que injetou milhares de milhões de euros no reforço da economia de estilo soviético controlada pelo Estado, com energia barata e empréstimos.
No entanto, em declarações à AP, Lukashenko disse que ele e o seu país defendem a paz e apelaram repetidamente ao fim da "guerra" -- um termo que o Kremlin se recusa utilizar, apelidando a invasão de "operação militar especial" em vez disso.
"Nós não aceitamos, categoricamente, qualquer guerra. Já fizemos e agora estamos a fazer tudo para que não haja guerra. Graças a mim, as negociações entre a Rússia e a Ucrânia começaram", apontou.
O chefe de Estado bielorrusso disse que o uso de armas nucleares na Ucrânia era "inaceitável porque está mesmo" ao lado da Bielorrússia.
"Não estamos do outro lado do oceano como os Estados Unidos. Também é inaceitável porque pode empurrar o nosso planeta a voar fora de órbita para algum lado. Se a Rússia é ou não capaz disso, é uma questão que tem de ser colocada à liderança russa", asseverou.
A Rússia "não pode, por definição, perder esta guerra", prosseguiu Lukashenko, notando que a Bielorrússia é o único país ao lado de Moscovo, enquanto "50 Estados uniram forças" ao lado da Ucrânia.
Além disso, argumentou que Putin não procura um conflito direto com a NATO e que o Ocidente deveria assegurar-se que isso não acontece.
"O mais provável é que ele não queira um confronto global com a NATO. Utilizem isso. Utilizem isso e façam tudo para não acontecer. Caso contrário, mesmo que Putin não o queira, os militares vão reagir", avisou o líder bielorrusso.
Aos 67 anos, Lukashenko considerou Putin o seu "irmão mais velho" e que o líder russo não tem "relações mais próximas, abertas ou amistosas com nenhum dos líderes mundiais para além do Presidente da Bielorrússia".
A sua relação tem sido particularmente estreita nos últimos anos, mas foi tensa em anos anteriores.
Antes das disputadas eleições presidenciais de 2020 terem originado manifestações maciças e repressão interna por parte de Lukashenko, o líder bielorrusso acusou frequentemente o Kremlin de tentar forçá-lo a renunciar ao controlo de bens económicos e a abandonar a independência do seu país.
Depois de ser confrontado com duras sanções económicas após a repressão violenta dos protestos, líder bielorrusso começou a enfatizar a necessidade de combater em conjunto a pressão ocidental e reuniu-se regularmente com Putin, sublinhando os laços estreitos entre ambos.
O apoio de Lukashenko à invasão da Ucrânia não foi o suficiente para enviar as suas próprias tropas, mas ainda atraiu críticas da oposição bielorrussa, que pede mais sanções contra o Presidente e o país.
As figuras da oposição do país garantem que os bielorrussos comuns não apoiam a invasão e centenas deles residentes na Ucrânia foram afetados pela guerra, alguns dos quais tornaram-se voluntários e lutam ao lado das tropas de Kiev.
O líder bielorrusso disse à AP que o seu país não representa qualquer perigo para outros, apesar de o Exército ter conduzido exercícios esta semana.
"Não ameaçámos ninguém e não o vamos fazer. Além disso, não podemos ameaçar -- sabemos quem se opõe a nós, pelo que o desencadear de algum tempo de conflito ou guerra aqui é absolutamente contra os interesses do Estado bielorrusso. Por isso, o Ocidente pode dormir em paz", atirou.
No entender de Lukashenko, o Ocidente -- especialmente Washington -- é culpado por ter alimentado o conflito entre Rússia e Ucrânia.
"Os Estados Unidos querem aproveitar o momento, amarrando os seus aliados a si mesmo e afogar a Rússia na guerra com a Ucrânia. É o seu objetivo -- reparar o problema da Rússia e depois da China", continuou.
Sobre o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o líder bielorrusso disse que este estava a receber ordens dos norte-americanos.
"Hoje não é Zelensky que lidera a Ucrânia -- sem ofensa, este é o meu ponto de vista, talvez eu esteja errado", disse Lukashenko, acrescentando que se o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o dissesse, "tudo iria parar dentro de uma semana".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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