A invasão da Ucrânia lançada em 24 de fevereiro e as sanções impostas contra a Rússia atingiram duramente os países africanos, que já lutam com os efeitos da pandemia de covid-19 e a emergência climática.
"Esta é uma crise sem precedentes para o continente", disse o economista-chefe do PNUD para África, Raymond Gilpin, numa conferência de imprensa em Genebra.
Gilpin, que interveio por videoconferência a partir de Nova Iorque, falou do aumento da inflação, particularmente na África do Sul, Zimbábue e Serra Leoa.
O economista disse esperar "uma diminuição do crescimento económico no continente, que deverá aumentar ligeiramente este ano após a doença covid-19, uma vez que o crescimento das exportações vai rondar os 4%, e não os 8,3% como esperado".
As consequências afetam milhões de famílias em todo o continente -- incluindo a maioria dos países mais pobres do mundo -- que sofrerão crescentes dificuldades financeiras, o que pode alimentar protestos nas ruas.
"Vemos a possibilidade de tensões em pontos críticos como o Sahel, partes da África Central e no Corno de África", acrescentou o economista.
"As tensões, especialmente em áreas urbanas, comunidades de baixos rendimentos, podem transbordar e levar a protestos e tumultos violentos", especialmente em países que têm eleições agendadas este ano no próximo, antecipou.
Esta situação pode registar-se especialmente porque muitos países africanos dependiam de bens alimentares provenientes da Rússia e da Ucrânia, dois grandes exportadores de trigo, milho, colza e óleo de girassol.
"Nalguns países africanos, até 80% do trigo vem da Rússia e da Ucrânia. Com as ruturas que estão agora acontecer, há uma situação urgente a materializar-se", insistiu na mesma conferência a subsecretária-geral da ONU, Ahunna Eziakonwa.
"Onde é que esses países vão da noite para o dia encontrar produtos básicos que, recordo, são produtos de subsistência", questionou Eziakonwa, também diretora regional do escritório África do PNUD.
E, segundo a subsecretária-geral da ONU, as taxas de empréstimos em África são muito altas.
"As taxas são mais elevadas do que em qualquer outro lugar do mundo. E em termos de dívida, vários países já estão em dificuldades", acrescentou Eziakonwa, citando em particular o altamente endividado Gana.
Segundo esta responsável da ONU, "as instituições multilaterais devem esforçar-se em pensar verdadeiramente num cenário de reestruturação da dívida".
A Rússia invadiu em 24 de fevereiro a Ucrânia, e essa operação militar já provocou a morte de mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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