"Espero que exista suficiente ambiguidade e dê espaço para passar as próximas semanas a tentar uma solução negociada", disse hoje em Londres a um grupo de jornalistas da Associação de Imprensa Estrangeira.
Um potencial anúncio de uma proposta de lei para suspender o protocolo, avançado pela imprensa, deixa mesmo assim um espaço de muitos meses até ser aprovada e promulgada, que pode ser aproveitado para negociações que resultem num compromisso.
"Não é uma questão de remover o protocolo, mas reformar", afirmou, aludindo à "delicadeza" da ordem política naquele território, onde as decisões dependem do equilíbrio e partilha de poder entre 'unionistas', leais à coroa britânica, e republicanos, favoráveis à reunificação com a Irlanda.
O agora deputado do Partido Conservador foi demitido por Boris Johnson apenas algumas semanas depois de mediar o restabelecimento das instituições políticas na Irlanda do Norte, em fevereiro de 2020, após três anos suspensas.
Smith avisou que "quanto mais a situação se prolonga, mais surgem linhas vermelhas e posições das quais é difícil sair" e que é preciso "avançar rapidamente", lembrando que a estabilidade política na Irlanda do Norte é um resultado de cedências e conciliações.
Recordou também que o sistema de partilha de poder na Irlanda do Norte desenhado pelo acordo de paz de 1998 depende do apoio dos unionistas, que representaram 40% dos votos nas eleições.
"Precisamos de uma abordagem equilibrada, que tenha em conta as preocupações dos unionistas para que voltem a viabilizar o Governo, mas também das empresas, que tem muitas vantagens no Protocolo", afirmou.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, está hoje em Belfast para reunir de emergência com os partidos políticos e instá-los a restabelecer as instituições políticas, nomeadamente a Assembleia e Governo regional, na sequência das eleições de 05 de maio.
O Partido Democrata Unionista (DUP), que perdeu a posição de partido maioritário na Assembleia para o rival Sinn Féin, recusa formar a coligação necessária para viabilizar um governo enquanto não forem feitas alterações aos acordos pós-Brexit.
Os unionistas argumentam que o Protocolo da Irlanda do Norte prejudica a relação da província com o resto do Reino Unido, devido á sujeição a regras da UE e a controlos e documentação adicionais a bens que chegam da Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales e Escócia).
O primeiro-ministro britânico argumentou hoje que o texto, parte do acordo de saída do Reino Unido da UE assinado em 2019, tem de ser refeito para ter o máximo de apoio político possível na Irlanda do Norte.
"Espero que a posição da UE mude. Se isso não acontecer, haverá uma necessidade de agir", escreveu no jornal Belfast Telegraph, prometendo apresentar um plano ao Parlamento nos próximos dias.
A imprensa britânica noticiou na semana passada que o Governo britânico pretende introduzir legislação com poderes para revogar partes do Protocolo, mas que alguns ministros receiam retaliação da UE que resulte numa "guerra comercial" numa altura de crise económica.
A Comissão Europeia criticou o Reino Unido por "enveredar pelo caminho da ação unilateral", exortando o Executivo britânico a retomar as negociações com Bruxelas.
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