ONU. Arquitetura financeira global "não serve para África"

Os governantes africanos reunidos na Conferência de Ministros organizada pela Comissão Económica das Nações Unidas para África (ECA) defenderam uma reestruturação completa da arquitetura financeira, que "não serve para África", e pediram mais verbas para a recuperação económica.

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Lusa
19/05/2022 15:47 ‧ 19/05/2022 por Lusa

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"A arquitetura financeira global não serve para África", resumiu a secretária executiva da ECA e subsecretária-geral das Nações Unidas, Vera Swonge, no final do encontro dos ministros das Finanças africanos, que estiveram reunidos esta semana em Dacar, no Senegal.

No discurso de encerramento dos trabalhos, o Presidente do Senegal, Macky Sall, explicou que as verbas financeiras chegam a África com um preço mais caro do que a outros países comparáveis e lamentou que a qualidade do crédito "dependa de decisões de opacas agências de notação financeira", que olham para África de forma mais arriscada que para outros países.

"Por vezes sentimo-nos tristes e pensamos no que podemos fazer, onde estamos e qual é o nosso lugar", disse o chefe de Estado, lembrando que quando os países africanos pediram uma realocação dos Direitos Especiais de Saque, emitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no seguimento da pandemia, "disseram que não podiam dar, e por isso tivemos de pedir novos... falam de défices e rácios de dívida quando nós precisamos de dinheiro como um doente covid precisa de oxigénio, mas depois dizem que não têm instrumentos, como se não dessem oxigénio a um doente covid porque falta o instrumento para dar oxigénio".

De acordo com o comunicado distribuído em Dacar, os ministros das Finanças, académicos e economistas concordaram que a arquitetura do sistema financeiro mundial tem de ser alterada para servir África de forma mais eficaz, principalmente depois de as grandes metas de desenvolvimento do continente terem sofrido "um revés significativo", não só devido à pandemia, mas também devido aos impactos da invasão da Ucrânia pela Rússia.

"A despesa anual dos países africanos só para cumprirem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável deverão aumentar 154 mil milhões de dólares (145 mil milhões de euros) por causa da pandemia, e mais 285 mil milhões de dólares (269 mil milhões de euros) serão necessários nos próximos cinco anos para garantir uma resposta adequada à covid-19", de acordo com os ministros africanos das Finanças.

Os governantes salientam ainda que o continente precisará de entre 130 e 170 mil milhões de dólares (123 e 160 mil milhões de euros) por ano para projetos de infraestrutura e 66 mil milhões de dólares (62,4 mil milhões de euros) para investir nas infraestruturas relacionadas com a saúde.

Para lá da pandemia, "a recuperação económica está a ser dificultada pelo aumento dos preços da comida, do petróleo e dos fertilizantes devido à guerra na Ucrânia, com 29 países a deverem enfrentar uma severa crise alimentar".

Aplacar as alterações climáticas, outro dos grandes problemas africanos, vai custar 3 biliões de dólares, cerca de 2,8 biliões de euros, até 2030, parte dos quais deverão ser canalizados para infraestruturas que permitam resolver o problema dos 640 milhões de africanos que não têm acesso à eletricidade.

Leia Também: Danos nas infraestruturas ucranianas superam 95 mil milhões de euros

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