Partilhando o sentimento de tantos outros milhares de pessoas, Natalya chora a morte do filho, num cemitério nos arredores de Mariupol. Vladimir Voloshin, de 28 anos, foi morto por estilhaços que o atingiram na cabeça e no peito, durante a luta pela cidade portuária, a 26 de março. Mas é um dos ‘sortudos’. Caminhando pelas filas de sepulturas improvisadas, Natalya reflete que muitas das vítimas mortais não têm quem honre a sua memória.
“Quem os enterrará? Quem colocará uma placa? Já não têm família”, lamentou a enfermeira, de 57 anos, em declarações à Reuters, enquanto visitava a campa do filho, no cemitério de Staryi Krym.
Os planos de Vladimir, que se tinha formado recentemente numa academia naval local, foram interrompidos pela invasão russa. “Era suposto ele ter partido em fevereiro”, disse a mulher, entre lágrimas. “Mas depois a guerra começou. Sem qualquer razão”, lançou.
Esta segunda-feira, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou que equipas de sapadores de engenharia militar estão a levar a cabo operações de desminagem do perímetro da siderúrgica de Azovstal, o último bastião dos combatentes ucranianos na cidade portuária de Mariupol.
Segundo a entidade, foram neutralizados "mais de uma centena de artefactos" (não especificados) que se encontravam na fábrica, após a retirada das forças ucranianas.
Recorde-se que a Rússia anunciou, a 20 de maio, a "completa rendição" dos defensores de Azovstal. Nessa altura, os últimos combatentes (531 ucranianos) que se encontravam nos subterrâneos da instalação fabril há quase dois meses entregaram-se às tropas russas.
No total, de acordo com Moscovo, durante a semana passada entregaram-se 2.439 combatentes ucranianos, na maioria membros do batalhão nacionalista Azov, que integram o Exército regular de Kyiv.
Também esta segunda-feira, a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, revelou que o país está a investigar cerca de 13 mil crimes de guerra cometidos pelas forças russas durante a invasão, planeando julgar pelo menos mais 48 indivíduos, à semelhança do que sucedeu com o combatente de 21 anos Vadim Shishimarin, hoje condenado a prisão perpétua pelo assassinato de Oleksandr Shelipov, de 62 anos.
Apesar das alegações, a Rússia continua a negar estar a levar a cabo crimes de guerra na Ucrânia.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar na Ucrânia já matou mais de três mil civis, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
O conflito causou ainda a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de seis milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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