Fundação Mo Ibrahim. COP27 deve ter em conta "especificidade" de África

A especificidade de África precisa de ser tida em conta no debate sobre o combate às alterações climáticas, defende um estudo da Fundação Mo Ibrahim publicado hoje, seis meses antes da cimeira COP27 no Egito. 

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Lusa
24/05/2022 16:06 ‧ 24/05/2022 por Lusa

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COP27

De acordo com o estudo, para manter o desenvolvimento socioeconómico no continente, a justiça climática precisa de ser equilibrada com a "justiça energética", permitindo a exploração das enormes reservas de gás natural em África. 

"A fim de unir os objetivos climáticos e de desenvolvimento e servir tanto as pessoas como o planeta, o gás deve ser considerado combustível de transição", escrevem os autores, lembrando que centenas de milhões de africanos não têm acesso à eletricidade ou combustível limpo para cozinhar. 

Atualmente, 18 países africanos são produtores de gás, mas na cimeira das partes sobre alterações climáticas (COP26), em Glasgow, em novembro, 39 países e instituições decidiram acabar com o financiamento de todos os combustíveis fósseis, incluindo o gás, o que põe em causa a sua exploração no futuro.

Embora o continente seja das regiões mais afetadas no mundo pelas alterações climáticas e menos responsável pelas emissões de gases com efeito de estufa, é também uma mais ricas em recursos naturais, incluindo minerais essenciais para baterias de automóveis elétricos. 

De acordo com o estudo, a República Democrática do Congo é o principal produtor mundial de cobalto, usado em baterias de veículos elétricos, minério cuja metade das reservas mundiais está em África, e o Mali tem grandes reservas de lítio.

"Graças aos seus imensos recursos ecológicos e minerais, África tem potencial para estar no centro de um futuro sustentável tanto para o continente como para o mundo", defende o empresário e filantropo Mo Ibrahim, num comunicado de apresentação do estudo. 

Na próxima cimeira dedicada ao clima COP27, argumenta, "é essencial que a posição única de África seja melhor compreendida e tida em conta" pois algumas medidas arriscam exacerbar a insegurança alimentar e os conflitos. 

O estudo afirma que os problemas de desenvolvimento socioeconómico no continente agravam o impacto das alterações climáticas e reduzem a resiliência, tornando o continente particularmente vulnerável, com o risco de milhões caírem na pobreza extrema ou fome crónica até 2050.

De acordo com o estudo, África é a região do mundo menos responsável pelas mudanças climáticas, responsável por apenas 3,3% do total de emissões globais de gases com efeito de estufa, mas uma das mais afetadas. 

Entre 2010-2022, pelo menos 172,3 milhões de pessoas foram afetadas por secas e 43 milhões por inundações.

Angola está entre os 10 países africanos com maior número de secas e inundações naquele período, enquanto Moçambique é também um dos mais afetados por inundações. 

Segundo o estudo, 29 países africanos sofreram pelo menos um episódio de seca entre 2010 e 2022 e todos os países africanos, exceto a Guiné Equatorial e a Eritreia, sofreram pelo menos um episódio de inundação.

O relatório indica que a Guiné-Bissau é o terceiro país no mundo mais vulnerável às alterações climáticas, atrás apenas do Níger e da Somália.  

Estas questões vão ser debatidas nos próximos três dias num Fórum virtual promovido pela Fundação Mo Ibrahim e o resultado das discussões será publicado antes da COP27, em novembro.

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