Apesar de se opor a todas as estruturas do Estado ucraniano, à semelhança de quase todos os outros partidos e movimentos anarquistas espalhados pelo mundo, os anarquistas ucranianos puseram a grande diferença de parte e anunciaram o seu apoio ao governo.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, ativistas anarquistas garantiram que vão lutar "para proteger a sociedade mais ou menos livre que existe na Ucrânia", não deixando de alertar para a proliferação de grupos neonazis e a abolição de alguns partidos como fatores negativos no país.
Ainda assim, a defesa do território ucraniano é mais importante, e o movimento anarquista criou uma base em Kyiv para enviar mantimentos para a linha da frente e para acolher anarquistas do resto do mundo que queiram lutar.
"O terror de Putin está a acontecer na Ucrânia e é indiscriminado. Está a acontecer contra todas as partes da população, especialmente nas partes russófonas que o Putin supostamente vinha libertar", apontou um ativista.
O mesmo movimento considerou que o regime de Putin é "ultraconservador, uma ditadura de extrema-direita que reprime anarquistas, a imprensa livre, as redes LGBT" e assusta "as iniciativas mais banais e locais, como ativistas ambientais".
Segundo contou o porta-voz do movimento ao jornal, Serhiy Movchan, cerca de 100 anarquistas foram lutar para a linha da frente, e cerca de 20 anarquistas de outros países juntaram-se à luta, incluindo um da Rússia. Há também anarquistas a apoiar as infraestruturas médicas no leste da Ucrânia.
"Vemos o conflito entre a Ucrânia e a Rússia como um conflito entre um estado mais ou menos democrático, e um estado totalitário", definiram.
Os anarquistas já existiram em maior número na Ucrânia, especialmente após o colapso do império russo e do czar Nicolau II. Entre 1917 e 1921, os anarquistas liderados por Nestor Makhno conseguiram transmitir a sua mensagem a algumas comunas autogovernadas no sul e leste da Ucrânia, mas o movimento acabou por morrer às mãos dos bolcheviques.
No entanto, o impacto histórico da União Soviética, do Holodomor e a propaganda da direita em colar toda a esquerda ao passado soviético, têm dificultado o crescimento do movimento anarquista.
Os anarquistas queixam-se também da forma como Putin criou partidos pró-Rússia em vários países, incluindo na Ucrânia, e se catalogou como antifascista, considerando que foi uma forma de manchar a imagem da esquerda, apesar dos partidos e instituições pró-Kremlin atacarem direitos humanos e a liberdade de imprensa.
A guerra na Ucrânia já fez quase 4.000 mortos entre a população civil, segundo os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. No entanto, a organização alerta que o número de mortos poderá ser muito superior, dadas as dificuldades em contabilizar as baixas em cidades tomadas e sitiadas pela Rússia.
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