"A profundidade das crises em curso deixa claro que a África precisa de muito mais energia limpa. O gás natural será um combustível de transição importante para reduzir o teor de carbono", admitiu Malpass, durante o Fórum de Governação 2022 organizado pela Fundação Mo Ibrahim.
Porém, insistiu que "novos investimentos em manutenção de hidrelétricas e barragens são importantes" e que "aumentar a eficiência energética, incluindo ar condicionado, e fazer os investimentos necessários na rede para absorver as energias renováveis também serão passos fundamentais".
"Estes vários passos serão essenciais na transição de África da agricultura de subsistência para a atividade económica produtiva na agricultura, serviços, indústria e setores públicos", vincou o analista económico norte-americano.
Maior uso de energias renováveis, acrescentou, são também "um alicerce fundamental para a segurança e melhorias em geral no crescimento e no nível de vida".
África é o continente com o mais baixo nível acesso a energia, onde apenas 55,7% da população tem eletricidade, contra uma média de 90% no resto do mundo, de acordo com estudo publicado pela Fundação Mo Ibrahim esta semana.
Segundo o mesmo estudo, mais de 930 milhões têm de usar combustíveis poluentes, como carvão, madeira ou gasolina, para cozinhar, agravando os riscos de saúde, resultando em quase 500 mil mortes prematuras por ano.
Ainda assim, 22 países africanos já usam energias renováveis como principal fonte de eletricidade, sobretudo energia hídrica, mas também solar e geotérmica.
Moçambique é um dos oito países africanos onde mais de 90% da eletricidade é gerada de energias limpas.
Ainda assim, muitos países africanos defendem a exploração das grandes reservas de gás no continente para desenvolver-se socioeconomicamente tendo em conta as crises resultantes da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia, que aumentaram os preços da energia, cereais e fertilizantes.
Os países africanos criticam a União Europeia por ter anunciado na cimeira climática COP26, em 2021, a suspensão do financiamento europeu a projetos de hidrocarbonetos no estrangeiro.
"A retórica está a mudar devido à guerra na Ucrânia. O gás que temos em África é muito importante para nós e para o resto do mundo para a transição energética", afirmou Mamadou Fall Kane, assessor para a energia do Presidente da República do Senegal, durante o Fórum.
Chris Gentle, consultor do Conselho Mundial de Energia, reconheceu que as circunstâncias mudaram desde a COP26, em novembro, a forma como a comunidade internacional olha para o "trilema" composto pela neutralidade carbónica, segurança energética e acesso à energia.
"Quando estávamos em Glasgow, no ano passado, esse triângulo foi até certo ponto desestabilizado por se falar de mais sobre a neutralidade carbónica e não se falar o suficiente sobre acesso e segurança", referiu.
Porém, nos últimos meses aumentou a pressão sobre os países europeus para deixarem de depender do gás e petróleo russos, cujos rendimentos financiam a campanha militar.
"A invasão da Ucrânia pela Rússia mudou esse triângulo e de repente agora a segurança energética é a coisa que desestabiliza as outras áreas, não apenas para a Europa, mas no resto do mundo", explicou.
Leia Também: Banco Mundial aprova empréstimo para fornecer mais água potável a Díli