"País mais seguro". Ted Cruz foge à questão das armas e deixa entrevista

Apesar dos vários massacres em escolas e de uma grande parte da população defender mais restrições à compra e porte de armas, os republicanos continuam a bloquear qualquer legislação que procure restringir o acesso a armas de fogo no país. Ted Cruz, senador republicano, ficou sem respostas para as questões de um jornalista.

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Hélio Carvalho
27/05/2022 08:54 ‧ 27/05/2022 por Hélio Carvalho

Mundo

Estados Unidos

O senador republicano Ted Cruz foi confrontado na quarta-feira por jornalistas sobre a sua defesa do direito ao porte de armas, enquanto visitava Uvalde, no Texas, onde morreram mais 19 crianças e dois professores num tiroteio. Cruz desvalorizou as perguntas, insultou os jornalistas e abandonou mesmo a entrevista, proclamando que os Estados Unidos são seguros.

O senador, um aliado de Donald Trump durante o mandato do ex-presidente, começou por lamentar que "há 19 pares de pais que nunca vão poder beijar novamente os filhos à noite".

Quando questionado sobre se este é o momento para uma reforma das leis das armas, Cruz respondeu que "é fácil ir para a política" e que "é para onde os média gostam de ir".

O jornalista da Sky News, Mark Stone, pressionou o senador sobre o facto de uma grande maioria dos tiroteios em massa e em escolas ocorrem quase exclusivamente nos Estados Unidos. Cruz, irritado, disse que o jornalista tinha "a sua agenda política".

"Porque é que as pessoas vêm de todo o mundo para a América? Porque este é o mais livre, mais próspero, mais seguro país no mundo. Pare de ser um propagandista", rematou, abandonando a entrevista.

Apesar da declaração do senador, os factos contrariam-no.  Segundo a NBC, os Estados Unidos são, de longe, o país com mais armas no mundo - há 120 armas por cada cem pessoas, um valor duas vezes mais elevado que o do Iémen, o segundo país na lista. Com 4% da população mundial, os Estados Unidos acumularam 31% de todos os tiroteios em massa no mundo, entre 1966 e 2012, segundo um estudo da Universidade do Alabama.

O tiroteio em Uvalde foi o 27.º do ano em escolas norte-americanas. Em 2022, o país já registou mais de 200 tiroteios em massa - em 2021, foram 693 tiroteios em massa.

Ted Cruz, um autoproclamado amante das armas

Cruz sempre foi um defensor acérrimo das armas de fogo. Como senador conservador pelo estado do Texas - um estado onde comprar e ter uma arma de fogo é muito comum, e onde as leis para andar com a arma na rua foram relaxadas -, Ted Cruz tem sido uma das vozes republicanas que mais defende a compra de armas após massacres e tiroteios no país.

Poucas horas depois do tiroteio em Uvalde, no estado do Texas, o debate sobre a compra e porte de armas voltou a estar na ordem do dia. Ted Cruz surgiu, no entanto, a defender mais armas na escola e focou o debate nas portas destrancadas nas traseiras das escolas.

"Não há dúvida que temos de fazer mais para manter as nossas crianças seguras. Sabemos que a ferramenta mais eficaz para o fazer são autoridades armadas", disse, apoiando também o porte de armas por professores nas salas de aula.

Um dos fatores que leva Cruz a defender tão rispidamente o acesso às armas é o apoio que recebe da NRA - a Associação Nacional de Armas. A NRA é um dos mais poderosos grupos de lóbi dos Estados Unidos, financiando campanhas e políticos para bloquear qualquer legislação que procure restringir a compra, o porto e o uso de armas de fogo no país.

Segundo a Vanity Fair, a NRA investiu 15 milhões de dólares no ano passado em políticos, com Cruz a ser um dos principais beneficiários. O senador do Texas vai ser um dos oradores no comício anual da associação no Texas, menos de uma semana depois do tiroteio, a par de Donald Trump.

Apesar de outros países, como a Austrália e a Nova Zelândia, terem demonstrado, depois de tiroteios em massa,  que legislação que bloqueia o acesso a armas semiautomáticas resulta a reduzir o crime violento, Cruz continua a responder que "nenhuma das propostas que os democratas têm iriam parar" o tiroteio em Uvalde.

Na terça-feira, Salvador Ramos, um jovem com 18 anos acabados de fazer, dirigiu-se à Robb Elementary School em Uvalde, no Texas, e disparou contra alunos e professores. Ramos, que tinha comprado duas armas semiautomáticas menos de dez dias antes, matou 19 crianças e dois professores, antes de ser abatido pela polícia.

Esta sexta-feira, foi revelado um estudo das autoridades de saúde que indica que as armas tornaram-se a principal causa de morte de jovens norte-americanos, superando os acidentes de trânsito.

Leia Também: Armas tornaram-se principal causa de morte entre jovens norte-americanos

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