"Não temos acesso ao terreno. Estamos a investigar a partir de entrevistas. Mas cada dia que passa, chegam-nos entre 100 e 200 novos casos para investigar, com acusações de crimes de guerra perpetrados por soldados russos", disse Venediktova, numa conferência de imprensa em Haia, organizada pela organização Eurojust.
A procuradora-geral da Ucrânia explicou que alguns desses casos já estão a ser julgados e em breve muitos desses casos chegarão a tribunal, à medida que os investigadores começam a receber confissões de soldados russos detidos por suspeitas de crimes de guerra.
Questionada pelos jornalistas internacionais que assistiam à conferência de imprensa -- onde também estavam presentes o procurador do Tribunal Penal Internacional Karim Khan e o Presidente do Eurojust, Ladislav Hamran, para além de procuradores da Lituânia e da Polónia -- sobre a rapidez da justiça nos casos já em tribunal, Venediktova, não escondeu a sua surpresa.
"É curioso que, na Ucrânia, os jornalistas perguntam-me: 'Porque é que vocês estão a demorar tanto tempo?'. Fora da Ucrânia, os jornalistas perguntam-me: 'Porque é que vocês estão a ser tão céleres?'. A minha resposta é a mesma: quando sentimos que estamos prontos, levamos os casos a tribunal", explicou a procuradora-geral da Ucrânia.
Venediktova explicou que estão a ser investigados muitos casos de assassínios, violações, de tortura, de transporte forçado de crianças ucranianas para território russo, que se multiplicam diariamente.
"Como não estamos no terreno, não conseguimos provar muita da informação que nos é fornecida. Mas estamos a fazer milhares de entrevistas", disse a procuradora.
"Neste momento temos uma prioridade: conseguir provas. Muitos destes casos vão demorar anos ou décadas a ser investigados. Mas, para já, é importante recolher provas que esclareçam se há crimes de guerra que foram cometidos, para mais tarde serem analisadas", acrescentou Venediktova.
A procuradora-geral da Ucrânia mostrou-se preocupada com a falta de meios financeiros para muitas destas investigações, mas ainda mais preocupada com a falta de recursos humanos, de especialistas, para ajudar nas investigações.
"Há milhares de casos a serem investigados. Estamos a usar, essencialmente, dinheiro do orçamento da Ucrânia e alguns fundos que nos chegam da União Europeia ou dos Estados Unidos. Mas, sobretudo, precisamos de especialistas, particularmente da área dos direitos humanos internacionais", disse a procuradora.
O presidente do Eurojust esclareceu que a sua organização está a recolher fundos para ajudar nas investigações independentes, nomeadamente para auxiliar os procuradores nomeados pelo Tribunal Penal Internacional.
"Temos conseguido ser ouvidos junto de Bruxelas e temos promessas de ajuda financeira para breve", admitiu Ladislav Hamran, que viu as suas palavras serem corroboradas por Karim Khan.
"Também nós, somos uma organização independente. Mas estamos a conseguir meios suficientes para investigar muitos casos. A realidade é que a Ucrânia é, neste momento, um cenário de crime na Europa. E as instituições europeias não podem fechar os olhos a este facto", denunciou Khan.
"O sucesso do Tribunal Penal Internacional é o sucesso das autoridades ucranianas", reconheceu a procuradora-geral que viajou desde Kyiv até Haia, mostrando-se agradecida pela ajuda que está a receber desde o ocidente.
"As instituições europeias estão a cooperar, bem como vários países europeus. Destaco a França, a Eslováquia e a Lituânia", concluiu Venediktova.
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