A menina interveio via vídeo numa comissão da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos, perante a qual testemunharam outras vítimas do massacre na escola de Uvalde, em que morreram 19 alunos e duas professoras, bem como vítimas do ataque racista ocorrido num supermercado de Buffalo, no Estado de Nova Iorque, onde um atirador branco abriu fogo matando dez pessoas afro-norte-americanas.
No vídeo, Miah Cerrillo explicou que estava a ver um filme com outros colegas quando uma das suas professoras recebeu uma mensagem de correio eletrónico e se apressou a fechar à chave a porta da sala, ao mesmo tempo que pedia aos alunos que se escondessem atrás das mochilas e da sua secretária.
O agressor, armado com uma espingarda semiautomática AR-15, baleou a professora de Miah Cerrillo na cabeça, dizendo-lhe "boa noite", e começou a disparar sobre os alunos e sobre o quadro branco.
"Quando fugi para junto das mochilas, ele disparou sobre o meu amigo que estava ao pé de mim. Pensei que ia voltar à sala, então cobri-me de sangue, espalhei-o sobre mim", relatou a menina.
Depois, deslocou-se até junto do corpo da professora, pegou no seu telemóvel e ligou para o número de emergências 911.
"Disse-lhes que precisava de ajuda e que enviassem a polícia para aquela sala", recordou Miah Cerrillo, que foi contando a história no vídeo, em resposta às perguntas que o pai lhe ia fazendo.
Questionada sobre o que queria agora, depois do massacre, a menina respondeu: "Ter segurança". Quando o pai lhe perguntou se se sentia a salvo na escola, negou com a cabeça e disse: "Não quero que volte a acontecer".
O pai, Miguel Cerrillo, testemunhou pessoalmente perante a comissão e, entre soluços, pediu aos congressistas que implementem mudanças, não apenas para as crianças de Uvalde, mas para que algo tão horrível não se repita.
"Venho aqui porque poderia ter perdido a minha filha. E ela não já é a mesma menina pequena com quem eu costumava brincar e correr e tudo isso", afirmou, sublinhando que o trauma a mudou.
Perante a comissão, testemunharam também Félix e Kimberly Rubio, cuja filha Lexi morreu na escola de Uvalde, bem como Zeneta Everhart, mãe de um dos três feridos do massacre de Buffalo, que está a ser investigado como um crime de ódio, porque o agressor disparou num supermercado de um bairro da comunidade afro-norte-americana.
Também compareceu na comissão o médico Roy Guerrero, pediatra de Uvalde.
O testemunho de todos eles ocorreu apenas algumas horas antes de a Câmara dos Representantes, dominada pelos democratas, iniciar o debate sobre um grande pacote legislativo com medidas abrangentes para limitar a posse de armas.
Em paralelo, um grupo de senadores democratas e republicanos está a negociar um projeto de lei mais moderado com disposições para aumentar o controlo de antecedentes e limitar a venda de componentes de algumas armas, uma proposta de base em relação à qual esperam obter um acordo antes do final da semana.
Também quarta-feira, o Departamento de Justiça norte-americano nomeou uma equipa de nove pessoas, incluindo um oficial do FBI e ex-chefes de polícia, para avaliar a resposta da polícia ao tiroteio de Uvalde.
O procurador-geral Merrick Garland anunciou a constituição da equipa em Washington e a avaliação do incidente crítico será liderada por um gabinete do Departamento de Justiça.
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