Citado pela agência noticiosa Interfax, o chefe da diplomacia russo, Serguei Lavrov, destacou que "os crimes cometidos por mercenários estrangeiros no território foram considerados pelas autoridades de Donetsk de acordo com a legislação local".
"Neste momento todos os processos competentes estão a ser efetuados de acordo com a legislação da república, dado que estes crimes foram cometidos naquele território", afirmou.
Segundo Lavrov, "tudo o mais está sujeito à especulação".
Logo após a invasão russa, em 24 de fevereiro, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou a criação da Legião de Defesa Territorial Ucraniana, um destacamento através do qual Kiev procurou aumentar as suas forças armadas com voluntários internacionais.
Segundo as autoridades russas, quase 7.000 estrangeiros de mais de 60 países juntaram-se às forças ucranianas para participar no conflito.
A Rússia diz que pouco mais de 1.000 desses "mercenários estrangeiros" foram capturados, enquanto cerca de 400 foram detidos durante o cerco da siderúrgica Azovstal.
Hoje, em Genebra, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos defendeu que a condenação à morte de combatentes estrangeiros que lutaram ao lado dos ucranianos constitui "crime de guerra".
"Desde 2015, observamos que o chamado sistema judicial dessas autoproclamadas repúblicas não cumpre as garantias essenciais de um julgamento justo (...). Tais julgamentos contra prisioneiros de guerra constituem um crime de guerra", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado, durante uma conferência de imprensa em Genebra.
Shamdasani sublinhou que em caso de sentença de morte, "as garantias de um julgamento justo são ainda mais importantes".
A agência de notícias oficial russa TASS informou na quinta-feira que o Supremo Tribunal da República Popular de Donetsk condenou à morte "os britânicos Aiden Aslin e Shaun Pinner e o marroquino Brahim Saadoun, acusados ??de participarem em combates como mercenários".
Em Londres, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, manifestou-se "horrorizado" com as sentenças de morte, disse hoje um porta-voz de Downing Street.
A fonte oficial salientou que o líder conservador "está a acompanhar o caso de perto e pediu aos membros do seu governo que façam tudo o que estiver ao seu alcance para tentar reuni-los com as suas famílias o mais rapidamente possível".
Também em Londres, os familiares dos dois britânicos condenados à morte pediram hoje que as suas vidas sejam poupadas.
Segundo informações da estação de televisão BBC, as famílias de Aiden Aslin e Shaun Pinner destacaram a importância de conseguirem ajuda para que ambos tenham acesso a cuidados médicos e assistência jurídica após serem condenados por participar na guerra na Ucrânia em favor do lado ucraniano.
O pedido vem depois de os governos do Reino Unido e da Ucrânia garantirem que a condenação é uma violação da Convenção de Genebra.
A chefe da diplomacia britânica, Liz Truss, que tenciona abordar o assunto com o seu homólogo ucraniano ao longo do dia, insistiu que se trata de "prisioneiros de guerra" e enfatizou que o julgamento "não tem legitimidade".
Os dois britânicos, de 28 e 48 anos respetivamente, viviam na Ucrânia quando a guerra eclodiu e foram detidos em abril pelas forças russas enquanto defendiam a cidade de Mariupol.
Ambos residiam na Ucrânia desde 2018 e Aslin tem dupla nacionalidade, enquanto Pinner se casou com uma ucraniana.
Leia Também: "Não deviam estar lá". Reino Unido não vai mediar troca de prisioneiros