Numa reunião do Conselho de Segurança sobre a cooperação entre as Nações Unidas e organizações regionais e sub-regionais na manutenção da paz e segurança internacionais, Josep Borrell discursou virtualmente perante os diplomatas e declarou que o sistema multilateral está agora sob pressão como nunca devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, defendendo a necessidade de uma cooperação global cada vez maior.
"É preciso cooperar mesmo com os países com quem não estamos alinhados. [...] A ciência e a tecnologia estão a avançar, mas a diplomacia não está a avançar o suficiente", disse.
"Na União Europeia, estamos plenamente mobilizados em ajudar a Ucrânia a manter-se economicamente à tona e apta militarmente para defender o seu povo, a sua integridade territorial e a sua democracia. Esta é uma oportunidade para chamar todas as nações europeias, sendo pequenas ou grandes, para ajudar a Ucrânia fazendo o mesmo", apelou.
Borrell defendeu então que "ninguém pode ser neutro numa questão como a guerra russa na Ucrânia", frisando que "estar neutro é estar do lado do agressor".
"Ninguém pode viver seguro num mundo em que o uso ilegal da força é normalizado ou tolerado", observou o diplomata.
O alto representante da União Europeia afirmou ainda que o mundo está a testemunhar "um regresso e um crescimento da competição entre políticos", o que se tem materializado em "desconfiança e vetos na ONU", sendo que e tudo isso "tem um preço": "problemas que não são resolvidos e guerras e conflitos que deflagram e que deixam as pessoas à mercê desses acontecimentos".
Borrell mencionou também o impacto que a guerra na Ucrânia tem causado no mundo, ao amplificar problemas como a fome.
"Esta guerra pode estar a decorrer na Europa, mas não é uma guerra europeia, é um ataque à fundação das Nações Unidas. [...] Neste mundo globalizado, a distância não existe, pelo que esta guerra afeta a todos", declarou.
O alto representante europeu recordou que as sanções impostas pela União Europeia à Rússia não proíbem a importação e o transporte de produtos agrícolas, nem fertilizantes russos, nem o pagamento dessas exportações russas e que essas "medidas não afetam a capacidade de terceiros comprarem à Rússia".
Quem não concordou com as declarações de Borrell foi o embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, que afirmou que "dada a óbvia hostilidade da União Europeia face à Rússia, a sua falta de independência e subordinação aos Estados Unidos e à NATO", a Rússia "não tem escolha a não ser reconsiderar as abordagens básicas para desenvolver relações com essa associação".
"Sabemos que existem vozes sãs na União Europeia que compreendem o significado e o potencial das relações com a Rússia, mas hoje são quase inaudíveis", afirmou o diplomata russo.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 15 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou que 4.452 civis morreram e 5.531 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 112.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
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