"É tempo de pôr fim ao mito de que as armas nucleares proporcionam segurança", afirmou o chefe da diplomacia austríaca em Viena, na abertura da primeira conferência do Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares (TPNW, na sigla em inglês).
As potências nucleares podem agarrar-se às suas armas, "mas a maioria dos Estados não aceita esta lógica", sublinhou.
A reunião de três dias, boicotada pela NATO e pelas potências atómicas, conta com a presença de delegados de mais de 80 países, bem como de sobreviventes de testes nucleares e representantes da sociedade civil.
O TPNW, negociado e aprovado em 2017 nas Nações Unidas, entrou em vigor em 22 de janeiro de 2021 como um instrumento de direito internacional, no qual os signatários se comprometem, entre outras coisas, a não desenvolver, adquirir, armazenar, usar ou ameaçar usar armas nucleares ou outros engenhos explosivos nucleares.
Schallenberg informou que o número de Estados que ratificaram o tratado subiu para 65, depois de ter somado quatro países nos últimos dias, enquanto outros 23 assinaram, faltando a ratificação do documento.
O ministro austríaco manifestou-se confiante de que o acordo acabará por prevalecer, apesar de, para já, ser rejeitado pelos nove países que possuem armas nucleares, bem como pelos membros da NATO, embora dois deles, a Alemanha e a Noruega, participem no fórum a decorrer em Viena como observadores.
Numa alusão às ameaças do Kremlin (Presidência russa) de recorrer ao arsenal atómico na sua agressão contra a Ucrânia, Schallenberg sublinhou que a opinião mudou completamente desde que a primeira conferência do tratado foi planeada, há pouco mais de um ano.
"Na verdade, este deve ser um dia de celebração. Mas nunca desde a Guerra Fria a ameaça nuclear esteve mais presente do que hoje" e muitos "ficaram nervosos", alertou.
"É hora de acabar com o mito de que as armas nucleares fornecem segurança (...). Temos de abolir as armas nucleares antes que nos suprimam", porque "a espada de Dâmocles que paira sobre as nossas cabeças é uma ameaça demasiado grande", insistiu o ministro austríaco.
Por seu turno, o presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha, o suíço Peter Maurer, afirmou que o TPNW representa "uma mudança de paradigma", porque nele, ao contrário de outros tratados como o Tratado de Não Proliferação (TNP), as armas nucleares já não são consideradas do ponto de vista militar, mas sim humanitário.
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