Tania Cernuschi, 46 anos, teve a ideia do projeto "logo após o anúncio da saída dos Estados Unidos da América (EUA) da Organização Mundial da Saúde", explicou a própria à agência France Presse (AFP) esta semana, em Genebra.
O objetivo é angariar mil milhões de dólares (960 milhões de euros), enquanto a contribuição norte-americana foi de 1,3 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) para os anos de 2022-2023, o que representou 16% do orçamento da organização.
"Como muitos, fiquei perturbada. Não conseguia dormir, acordava de manhã e pensava nesta campanha", contou a funcionária da OMS, dando conta da sua reação ao tomar conhecimento da decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, logo que tomou posse, a 20 de janeiro.
A sua campanha "Um dólar, um mundo", apoiada pela Fundação OMS, obteve um rápido sucesso.
"Estou a pedir um dólar a mil milhões de pessoas, para um total de mil milhões de dólares. As pessoas podem dar mais. Dão um, cinco, dez, cem dólares. Cerca de 20 pessoas deram mais de 500 dólares", relatou Cernuschi, economista italiana especializada em desenvolvimento.
Após os EUA, a Argentina anunciou igualmente que se vai retirar da OMS, devido a "profundas diferenças na gestão da saúde" e "à influência política de certos Estados".
Mais de três mil doadores participaram até ao momento na campanha, que, apenas em alguns dias, arrecadou mais de 104 mil dólares.
As maiores doações vêm dos Estados Unidos, Suíça, França, Alemanha, Itália e Suécia, mas as contribuições estão a chegar de todas as partes do mundo.
Donald Trump justificou a retirada dos Estados Unidos da agência da ONU com a diferença entre as contribuições financeiras norte-americanas e chinesas, acusando a OMS de enganar o seu país.
Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), já tinha tentado em 2020 abandonar a OMS, que acusa de ter gerido mal a pandemia de covid-19 e de ser "controlada pela China".
O seu sucessor, Joe Biden, cancelou esta retirada antes que entrasse em vigor.
"Os donativos individuais são essenciais para muitas organizações internacionais", como a UNICEF, que arrecada mais de mil milhões de dólares por ano, mas não foi o caso da OMS, explicou à AFP Anil Soni, diretor da Fundação OMS, lançada em 2020 para mobilizar financiamento privado.
Desde então, foi construída uma comunidade de 40 mil doadores individuais, segundo especificou o representante, que contribuíram com um total de seis milhões de dólares (5,7 milhões de euros), aos quais se somam 26 milhões de dólares (24,9 milhões de euros) angariados junto de empresas desde 2021.
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