O opositor do regime russo, Alexei Navalny, criticou, na terça-feira, o funcionamento da prisão para o qual foi transferido, na semana passada. O político desapareceu da prisão em que estava a cumprir pena e esteve desaparecido durante vários dias, sabendo-se depois que fora transferido para outra prisão conhecida pelos maus tratos infligidos aos detidos.
“Acho que nunca me vou tornar um prisioneiro reformado”, começou por afirmar o maior opositor do presidente russo, na rede social Twitter. “Passei apenas uma semana na minha nova e acolhedora prisão de alta segurança e já recebi uma 'repreensão' do chefe da instituição’”, acrescentou.
Na nova instalação prisional, que fica mais afastada de Moscovo, Navalny explica que “relatórios, repreensões e recompensas são uma parte essencial da vida das prisões ‘vermelhas’”.
“Isto (e, claro, também espancamentos e torturas) é como tudo é gerido aqui”, criticou.
E explicou: “Se a administração gostar de ti, recebes encorajamento constante, e isso significa receber encomendas e visitas. Se não gostarem de ti, vão inventar violações, escrever relatórios sobre elas, e repreender-te”.
1/9 I guess I'm never going to become a reformed prisoner
— Alexey Navalny (@navalny) June 21, 2022
I've only spent a week in my new cozy high-security prison, and I've already received a "reprimand by the rights of the head of the institution".
Com duas repreensões, um detido é “enviado para a cela de castigo, onde pode facilmente morrer de ‘pneumonia’ ou partir o pescoço ao cair da cama, e alguém será recompensado por isso com uma visita da mãe”.
As repreensões acumulam-se, mas um ano após a última “desaparecem”. No entanto, no caso do político, tal não acontece. “A minha última repreensão com a frase ‘partiu o teto’ [não perguntem] foi em agosto passado. Consequentemente, todas as minhas 30 repreensões deveriam ter ‘desaparecido’ este agosto”.
Nalvany revelou que a prisão onde se encontrava detido antes da transferência "fez um relatório" que afirma violou o código de vestuário. O caso aconteceu às 6h30, apenas duas horas antes da mudança, quando o político foi à casa de banho “com uma t-shirt em vez de um macacão da prisão”.
“Só para que compreendam: às 6h30 da manhã todos os condenados lavam-se e fazem a barba e todos vão à casa de banho com uma t-shirt. Mas eu fui lá de forma perigosa. Fui lá como uma extremista e a minha t-shirt estava a ameaçar o atual governo”, sublinhou.
Já na nova prisão, a IK-6 +Melekhovo+, localizada a cerca de 250 quilómetros a leste de Moscovo, “convocaram” o político e “condenaram-no por tal ilegalidade”. “Deram-me uma nova repreensão, fazendo com que as 30 anteriores fiquem comigo durante mais um ano. Que conveniente - agora posso ser reconhecido como um delinquente a qualquer altura, colocado numa cela de castigo e assim por diante”, considerou.
“A moral desta história é: se quer viver uma vida perigosa, basta usar uma t-shirt de vez em quando”, ironizou ainda.
Sublinhe-se que o opositor do regime do presidente russo estava a cumprir pena em liberdade condicional após ter sido acusado de fraude – uma acusação que diz ter sido fabricada – quando foi envenenado com um agente neurotóxico do tipo Novitchok, em agosto de 2020.
Após aquela que considera ser uma tentativa de assassinato por parte do Kremlin, o opositor de 45 anos foi transferido, a pedido da mulher, da Sibéria para a Alemanha para recuperar. Foi detido ao voltar para a Rússia, a 17 de janeiro de 2021.
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